Hoje trouxemos o sétimo
capítulo do livro OS BOTÕES DE NAPOLEÃO: As 17 moléculas que mudaram a história,
que trata sobre o “Fenol” - molécula
aromática simples que consiste em um anel benzênico ligado ao grupo hidroxila (-OH). As propriedades antissépticas do fenol foram descobertas pelo cirurgião britânico Lister, no final do século XIX e
devido a isso, muitas amputações deixaram de ser feitas graças ao uso dessa substância nas cirurgias.
O
médico Joseph Lister, nascido em 1827 numa família quacre* de Yorkshire,
formou-se em medicina no University College, em Londres. Em 1861 trabalhava
como cirurgião na Royal Infirmary em Glasgow e lecionava cirurgia na
Universidade de Glasgow. Embora um novo e moderno prédio cirúrgico tenha sido
inaugurado na Royal Infirmary durante o período em que Lister ali atuou praticando a cirurgia, muitos eram os casos de óbitos. A doença hospitalar era um problema tão grave nessa instituição quanto em
qualquer outra. Por isso, Lister
procurava uma maneira de eliminar com segurança os germes de todas as
superfícies. Com isso, ele escolheu o ácido carbólico para usar nos tratamentos
dos pacientes, embora o primeiro paciente não tenha tido resultados positivos,
ele experimentou o uso em outros pacientes com fraturas expostas e obteve
êxito. No decorrer do tempo, passou-se a usar o ácido carbólico como agente antisséptico
em todos os seus procedimentos cirúrgicos, e não apenas como curativo
pós-operatório.
Com
a instalação dos primeiros lampiões a gás nas ruas de Londres em 1814, outras
cidades passaram a fazer uso generalizado do gás para iluminação. Esse gás de
hulha era produzido pelo aquecimento da hulha a temperaturas elevadas;
tratava-se de uma mistura inflamável — cerca de 50% de hidrogênio, 35% de metano e quantidades menores de monóxido de carbono, etileno, acetileno e outros compostos orgânicos.
À
medida que a demanda de gás de carvão crescia, aumentava também o problema do
que fazer com o coltar, o resíduo aparentemente sem valor do processo de gaseificação da hulha. Inclusive, o ácido carbólico cru que Lister usou de
início era uma mistura destilada a partir do coltar a temperaturas entre 170° e
230°. Esse material era oleoso, escuro e de cheiro muito forte, e queimava a
pele. Mas, depois Lister conseguiu obter o principal constituinte do ácido carbólico, o fenol, em sua forma pura, como cristais brancos.
O nome fenol não
se aplica somente à molécula antisséptica de Lister; designa um grupo muito grande
de compostos inter-relacionados que têm, todos, o grupo -OH diretamente ligado
a um anel de benzeno. Isso pode parecer confuso, pois há milhares ou
mesmo centenas de milhares de fenóis, mas apenas um “fenol”. Há fenóis feitos
pelo homem, como o triclorofenol e os hexilresorcinóis, com propriedades
antibacterianas, hoje usados como antissépticos.
Lister
desenvolveu também o que veio a ser conhecido como “cataplasma carbólico de
massa de vidraceiro”: uma mistura de fenol com óleo de linhaça e um alvejante
(pó de giz). A pasta resultante (espalhada sobre uma folha de estanho) era
posta, com o lado do cataplasma para baixo, sobre a ferida e atuava como uma
crosta, fornecendo uma barreira contra as bactérias.
Apesar
da eficácia de seu tratamento, demonstrada pelas taxas de recuperação dos pacientes, Lister não estava convencido de ter alcançado condições totalmente assépticas durante as cirurgias. Pensava que cada
partícula de poeira no ar carregava germes, e, num esforço para evitar que esses germes contaminassem as operações, desenvolveu uma máquina que borrifava continuamente fino vapor de uma solução de ácido carbólico no ar, encharcando na verdade a área toda.
A
máquina borrifadora de ácido carbólico de Lister realmente evitava a contaminação por micro-organismos, mas tinha efeitos negativos sobre os cirurgiões e outras pessoas na sala de cirurgia. O fenol é tóxico e, mesmo em soluções diluídas, causa descoramento, rachaduras e entorpecimento da pele,
além disso a inalação do borrifo fenólico pode causar doenças.
Hoje o fenol
raramente é usado como antisséptico; seus efeitos danosos sobre a pele e sua
toxicidade o tornaram menos útil que antissépticos desenvolvidos depois dele.
FENÓIS
MULTIFACETADOS
ÁCIDO
PÍCRICO: Originalmente usado como corante — especialmente para a seda e
mais tarde em armamentos, pelos ingleses, na Guerra dos Bôeres e nos estágios iniciais da Primeira Guerra Mundial, é um fenol trinitrado altamente explosivo.
As
moléculas picantes capsaicina das pimentas e zingerona do gengibre, podem ser
classificadas como fenóis, e algumas moléculas extremamente fragrantes
presentes nas especiarias o “EUGENOL no cravo-da-índia e o ISOEUGENOL
na noz-moscada”, são da família dos fenóis.
VANILINA - O
ingrediente ativo de um de nossos compostos flavorizantes mais amplamente usados, a baunilha, também é um fenol, tendo uma estrutura muito semelhante às do eugenol e do isoeugenol.
TETRAIDROCANABINOL
(THC) - O ingrediente ativo da maconha, é um fenol encontrado na Cannabis sativa, o cânhamo indiano. O
cânhamo ou maconha é cultivado há séculos por causa das fibras resistentes encontradas no caule, com
as quais se fazem cordas excelentes e um tecido rústico, e pelas propriedades suavemente inebriantes, sedativas e alucinógenas da molécula THC que, em
algumas variedades de Cannabis, está presente em todas as partes da planta, embora se concentre com mais frequência nos botões de flor da árvore fêmea.
GOSSIPOL - É
um composto tóxico, classificado como polifenol porque tem seis grupos -OH em quatro
anéis benzênicos diferentes.
Contudo,
por mais valiosos que sejam os diferentes derivados do fenol, foi o próprio composto que promoveu as maiores transformações em nosso mundo. Lister também
fazia experiências com o ácido carbólico, com o uso de marfim de origem animal
para a fabricação de produtos tão diversos quanto pentes, talheres, botões,
caixas, peças de jogo de xadrez e chaves de piano.
Para
isso, ele matava um número cada vez maior de elefantes por causa das presas, e
o marfim ia se tornando cada vez mais escasso e caro. O alarme diante da
redução da população de elefantes foi mais perceptível nos Estados Unidos, não pelas
razões ecológicas que defendemos atualmente, mas pela popularidade espetacularmente crescente do jogo de bilhar. Bolas de bilhar exigem um marfim de excelente qualidade para que elas rolem perfeitamente.
E
quando as reservas de marfim estavam minguando, a ideia de produzir um material
artificial para substituí-lo pareceu a melhor providência a se tomar. As
primeiras bolas de bilhar artificiais foram feitas com misturas prensadas de
substâncias como polpa de madeira, pó de osso e pasta de algodão solúvel,
impregnadas de uma resina dura ou revestidas com ela. O principal componente
dessas resinas era celulose, muitas vezes numa forma nitrada.
Logo
mais tarde, uma versão posterior e mais sofisticada foi feita, usando um
polímero baseado na celulose: o celuloide. A dureza e a densidade do celuloide podiam
ser controladas durante o processo de fabricação.
CELULOIDE: Foi
o primeiro material termoplástico — isto é, um material que podia ser
derretido e remodelado muitas vezes num processo que foi o precursor da moderna
máquina de moldagem por injeção, método que permite reproduzir objetos
repetidamente de maneira pouco onerosa e com mão de obra não qualificada.
Porém,
existe um problema considerável que os polímeros baseados em celulose apresentam
é que são inflamáveis e, em especial quando a nitrocelulose está envolvida, sua
tendência a explodir.
Os
fenóis que acabamos de discutir mudaram nossas vidas de muitas maneiras importantes (cirurgia antisséptica, desenvolvimento dos plásticos, fenóis explosivos)
e em muitos detalhes (fatores relacionados à saúde, alimentos condimentados,
corantes naturais, baunilha a preços acessíveis). Com tão ampla variedade de
estruturas, é provável que os fenóis continuem a moldar a história.
Esperamos que vocês tenham gostado do resumo do sétimo capítulo do livro
OS BOTÕES DE NAPOLEÃO: As 17 moléculas que mudaram a história.
BOA LEITURA, e se possível FIQUEM EM CASA!!!