sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Zika: o vírus que pegou o país de surpresa


© LÉO RAMOS
Stella Melo analisa ao microscópio cultura de células na USP.
Stella Melo analisa ao microscópio cultura de células na USP.

DISPONÍVEL:
ACESSO: 15/01/2016 as 19:58 h

Vestida como uma cirurgiã, a pesquisadora Stella Melo trabalhava em total silêncio em um laboratório de biossegurança da Universidade de São Paulo (USP) na tarde da sexta-feira 11 de dezembro. No interior de uma cabine na qual só circula ar filtrado, ela semeava células de rim de macaco em garrafas plásticas contendo um líquido rosado nutritivo. Embora usasse máscara, evitava falar para não correr o risco de contaminar o material. Dias mais tarde aquelas células serviriam para reproduzir o vírus Zika, um agente infeccioso que por décadas foi considerado inofensivo e agora assusta o Brasil e o mundo porque, suspeita-se, está associado ao nascimento de bebês com o cérebro menor que o normal, um problema sem cura conhecido como microcefalia congênita.
Na quinta-feira seguinte, dia 17, a virologista Danielle Leal de Oliveira usou parte das células preparadas por Stella para iniciar a cultura de Zika e anunciou em um e-mail: “Inoculei os vírus hoje. Estamos de dedos cruzados para ver se eles crescem”. Danielle e Stella integram a equipe do virologista Edison Durigon no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e trabalhavam duro para replicar as amostras de Zika recebidas do Instituto Evandro Chagas, no Pará. O objetivo era multiplicar o vírus e compartilhar com grupos do Brasil e do exterior que planejavam estudá-lo. Interessados não faltavam.
Desde que o Zika ganhou importância mundial em novembro com os casos de microcefalia, o virologista Paolo Zanotto, colega de Durigon e seu vizinho de sala na USP, não pensa em outra coisa a não ser conter o vírus. Especialista em evolução dos flavivírus, o grupo a que pertence o Zika, Zanotto sabe que é grande o risco de o vírus se espalhar pelo país – em especial pelo estado de São Paulo, onde se encontra disseminada a população urbana de seu transmissor, o mosquito Aedes aegypti. Ele sabe também que só há chance de conter o Zika com um esforço coordenado de pesquisadores, poder público e população.
Por essa razão, ainda em novembro, Zanotto iniciou a mobilização de virologistas, epidemiologistas, médicos e entomologistas de São Paulo e do exterior para estudar tudo o que for possível sobre o Zika. No final de dezembro, 32 grupos paulistas (quase 300 pesquisadores) já haviam aceitado integrar essa rede de investigação do vírus – que recebeu o nome informal de Rede Zika – e vários aguardavam amostras de vírus do laboratório de Durigon para iniciar as pesquisas.
Essa pronta reação foi possível porque, no passado, a FAPESP apoiou a criação de laboratórios de virologia em todo o estado de São Paulo que mantiveram forte interação entre si. Muitos deles detêm projetos temáticos ou auxílios regulares financiados pela Fundação e, para reativar o trabalho coletivo do grupo, a FAPESP concedeu pequenos aditivos aos projetos já existentes. Esses aditivos somarão cerca de R$ 550 mil e permitirão complementar o trabalho que já está sendo realizado.
Jean Pierre Peron é neuroimunologista e, entre outras coisas, estuda em seu laboratório na USP inflamações no cérebro provocadas pelo sistema de defesa do próprio corpo. Ele é um dos que aderiram à Rede Zika e está com sua equipe preparada para começar ao menos dois experimentos. Em um deles, Peron planeja injetar o vírus diretamente no cérebro de camundongos, com dois objetivos. O primeiro é deixá-lo se multiplicar e gerar mais amostras para suas pesquisas e a de outros grupos. O segundo, e mais importante, é verificar se o próprio vírus lesa o cérebro ou se os danos decorrem de um ataque exacerbado do sistema de defesa contra o Zika.
Imagens do cérebro de bebês que nasceram com microcefalia e são filhos de mães possivelmente infectadas por Zika na gravidez em geral mostram pequenos círculos brancos bem próximos uns dos outros, como as contas de um colar. Segundo neurologistas, são sinais de calcificação, uma espécie de cicatriz que se forma em áreas lesadas do cérebro e ocorrem também em bebês cujas mães tiveram infecção por citomegalovírus ou toxoplasmose na gestação. No caso do Zika, não se sabe se essas calcificações são provocadas pelo vírus ou são uma lesão secundária, resultado de um superataque das células de defesa ao invasor.
Também não se sabe ainda como o vírus chega ao cérebro, como foi observado em um bebê do Ceará que nasceu com microcefalia e morreu minutos após o parto. Foi a partir de amostras de vários tecidos dessa criança que o virologista Pedro Vasconcelos e sua equipe conseguiram isolar no Evandro Chagas, centro nacional de referência em virologia, as amostras de Zika enviadas para São Paulo. A suspeita principal é de que o vírus – assim como outros dos quase 60 da família Flaviviridae, a mesma do vírus da dengue e da febre amarela – se desenvolva melhor em células do sistema nervoso.
046-051_Zika_239-01

Um segundo experimento planejado por Peron pode ajudar a confirmar a preferência do Zika por células do tecido cerebral e a traçar o caminho percorrido pelo vírus até o sistema nervoso central. Ele e sua equipe estão prontos para inocular o vírus em camundongos fêmeas prenhes e acompanhar o que ocorre com os fetos. “Isso vai permitir verificar se o vírus chega até o cérebro dos fetos e se causa lesão, morte ou microcefalia”, disse Peron em uma visita ao laboratório de Durigon na tarde em que Stella preparava as células para multiplicar o Zika.
O trabalho de Peron com os roedores deve ser complementado pelos experimentos da bióloga Patrícia Beltrão Braga com células humanas. “A primeira coisa que precisamos saber é se, de fato, o vírus infecta células humanas do sistema nervoso e qual tipo de morte celular ele provoca”, diz Patrícia. Com base nas informações que circulam entre os pesquisadores e na extrapolação do que se conhece sobre outros flavivírus, o Zika deve invadir as células do tecido cerebral, mas ainda não se sabe quais nem como. Essa informação pode no futuro orientar os médicos sobre qual terapia adotar para tentar conter o vírus ou os danos que ele pode causar – por ora, no entanto, ainda não há medicamento seguro para combater o Zika.
Patrícia deve analisar os efeitos do vírus sobre células humanas usando uma tecnologia inovadora. Ela vai usar células-tronco adultas extraídas do dente de leite de crianças e reprogramá-las quimicamente para se transformarem em células mais versáteis, capazes de originar diferentes tecidos. Cultivadas em uma matriz tridimensional, essas células, ao receberem os estímulos químicos certos, originam os diferentes tipos de células do sistema nervoso central e se organizam em camadas, como se fossem cérebros microscópicos – alguns têm o tamanho da cabeça de um alfinete.
Patrícia planeja infectar os minicérebros com o Zika e acompanhar as alterações que surgirem. “Minha ideia é avaliar se o vírus prejudica o crescimento das células, a produção de proteínas e a formação de sinapses, que são as conexões entre os neurônios”, diz. “Acredito que os minicérebros devem permitir termos uma resposta rápida para algumas questões”, conta a pesquisadora, que participou da primeira reunião da Rede Zika no início de dezembro. Até aquele momento o Ministério da Saúde havia registrado a presença do vírus em 18 estados, principalmente no Nordeste, onde foram identificados os primeiros casos. E o vírus podia avançar mais.
Uma das dificuldades de planejar ações eficientes para conter o vírus é que ainda não se conhece seu padrão de circulação na população brasileira – nem em outras populações. Ninguém sabe com precisão quantas pessoas já foram infectadas no país nem quantos casos novos surgem por mês. Também não há dados sobre a taxa de infecção dos mosquitos e a sua eficiência em transmitir o vírus pela picada. “Com essas informações, poderíamos calcular a capacidade de a infecção se espalhar”, conta o epidemiologista Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da USP, que aderiu à rede.
Um modo de começar a conhecer essas variáveis é registrar os casos de infecção em tempo real, para ver como evoluem no tempo e no espaço. Uma das ferramentas necessárias para isso seria um teste de laboratório confiável para identificar infecções antigas por Zika e saber por onde o vírus já passou e quando. A forma atual de fazer esse rastreamento é por meio de exames sorológicos, que detectam anticorpos contra o vírus no sangue. Esse tipo de teste permite saber se uma infecção é antiga ou recente, mas não funciona bem no caso do Zika. É que os anticorpos contra ele são semelhantes aos gerados contra os vírus da dengue, que ocorre em quase todo o país.
O modo alternativo de averiguar a infecção, já disponível em quase 20 laboratórios da rede pública de saúde, é um teste que usa a técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR). Ele amplifica uma região do material genético do vírus, mas é mais complexo e exige pessoal treinado e equipamentos caros. Além disso, ele só permite detectar o Zika quando a infecção está ativa e a pessoa apresenta os sintomas.
Como boa parte dos laboratórios da Rede Zika já dispõe  de equipamentos para realizar PCR – muitos são antigos membros da Rede de Diversidade Genética de Vírus (VGDN), equipada com financiamento da FAPESP –, Zanotto planeja aproveitar essa capacidade instalada para auxiliar no monitoramento do Zika no estado de São Paulo. A ideia é que esses laboratórios realizem o diagnóstico molecular de pessoas suspeitas de estarem infectadas. Assim, seria possível acompanhar quase em tempo real o avanço das infecções e auxiliar os serviços de vigilância epidemiológica a combater os focos de infecção ativos.
Há motivos de sobra para a urgência. O verão já começou e com ele o período de chuvas no Sudeste, onde vivem 82 milhões de pessoas ou quatro de cada 10 brasileiros. O receio de virologistas, epidemiologistas e especialistas em saúde pública é de que o Zika encontre um terreno fértil para prosperar. O vírus é inoculado nos seres humanos pela picada da fêmea do Aedes aegypti, um mosquito escuro de pernas listradas de branco que costuma se alimentar de sangue durante o dia. Além de sangue, o mosquito só precisa de um pouco de água parada para gerar sua prole. E já faz alguns anos vem se tornando resistente a inseticidas (ver Pesquisa FAPESP nº 147).
Outro motivo de preocupação é que o Aedes, transmissor também dos vírus da dengue, da febre amarela e da febre chikungunya, já se espalhou pelo Sudeste. A evidência mais contundente da presença do mosquito são os casos de dengue de 2015. No ano passado o Ministério da Saúde identificou 1,6 milhão de casos suspeitos da infecção no país, dos quais 990 mil ou 61% ocorreram no Sudeste (718 mil no estado de São Paulo). É possível, sugerem alguns pesquisadores, que boa parte desses mosquitos já esteja contaminada com o Zika.
Já faz algum tempo se sabe que o Zika circula, ainda que timidamente, pelo Sudeste brasileiro. Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo haviam registrado até o fim de novembro uns poucos casos contraídos em seu próprio território e confirmados por exames moleculares. Mas não havia uma contabilidade oficial – e precisa.
O primeiro caso em São Paulo foi detectado em 19 de maio, quando o Instituto Adolfo Lutz, um dos laboratórios de referência para a detecção de vírus no país, confirmou a presença do Zika no sangue de um homem de 52 anos morador de Sumaré, na região de Campinas. Outro caso foi registrado em São José do Rio Preto, no noroeste do estado, e mais dois em Ribeirão Preto, no norte. “É possível que o Zika esteja circulando há alguns meses no estado, mas não de maneira disseminada”, disse o infectologista Marcos Boulos, chefe da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. “Caso contrário, já teríamos a confirmação de problemas neurológicos”, contou na tarde de 14 de dezembro, antes de o secretário David Uip anunciar que seis bebês com microcefalia estavam sob investigação para infecção por Zika.
046-051_Zika_239-02

Ainda não se conhece o tamanho do problema. Em meados de dezembro o Ministério da Saúde publicou um documento no qual faz uma projeção, ainda com grande nível de incerteza, sobre o número de infectados pelo vírus no país. Entre 443 mil e 1,3 milhão de brasileiros já podem ter tido Zika, doença que se confunde com a dengue, mas em 80% dos casos não gera sinal aparente ou causa, no máximo, um mal-estar passageiro (ver quadro). Os autores do documento chegaram a esses números tomando por base estimativas da literatura médica internacional e os casos suspeitos de dengue não confirmados por exames de laboratório.
O médico e virologista Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de Rio Preto, é um dos que suspeitam de que parte dos casos identificados como dengue, na realidade, seja de Zika. Há quase uma década ele acompanha os surtos de dengue em São José do Rio Preto e em abril e maio de 2015 identificou algo atípico: casos da síndrome de Guillain-Barré, doença inflamatória que degenera os nervos, em pessoas com sintomas de dengue. “Olhando retrospectivamente, pode ter sido o Zika”, contou. Em breve ele deve testar para o vírus cerca de 300 amostras de sangue do início de 2015 classificadas como dengue – Zanotto planeja fazer o mesmo com outras 1,2 mil da capital.
Caso o vírus esteja no estado há mais tempo e seja, de fato, o causador da microcefalia, novos casos podem aparecer em breve. “O pico de circulação da dengue em São Paulo e, portanto, de circulação do Aedes ocorreu entre abril e maio e quem era gestante na época está para ter bebê”, lembra Nogueira. Ele e seu grupo devem monitorar 2,2 mil pessoas por cinco anos para verificar a porcentagem de casos assintomáticos de Zika e o risco de microcefalia nos bebês de gestantes infectadas pelo vírus.
A suspeita da conexão do Zika com a microcefalia, algo inédito no mundo, surgiu em outubro. Um mês antes a neurologista pediátrica Vanessa Van Der Linden começou a identificar um aumento incomum nos casos de microcefalia no Hospital Barão de Lucena, onde trabalha no Recife, e notificou a Secretaria de Estado da Saúde de Pernambuco. Em seguida o pesquisador Carlos Brito, da Universidade Federal de Pernambuco, sugeriu que o Zika poderia estar por trás dos casos e o problema foi comunicado ao ministério, que notificou a Organização Mundial da Saúde.
As evidências mais fortes só vieram no fim de novembro, quando Vasconcelos isolou o vírus do bebê do Ceará e a Fiocruz do Rio confirmou a presença do Zika no líquido amniótico de duas gestantes da Paraíba cujos fetos tinham microcefalia. Até 15 de dezembro, o ministério havia confirmado 134 casos associados à infecção por Zika – em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe – e descartado 102. Outros 2.165 continuavam sob investigação.
Vários especialistas consultados pela reportagem afirmam que o Zika é o principal suspeito de causar a microcefalia. Além da conexão temporal entre os dois problemas, o vírus parece estar se adaptando a infectar os seres humanos. Em estudo feito com pesquisadores do Instituto Pasteur no Senegal, o biomédico Caio de Melo Freire, da Universidade Federal de São Carlos, demonstrou que a linhagem em circulação no Brasil veio da África via Ásia (ver mapa). No caminho, o vírus se humanizou: alguns de seus genes registram a receita para fazer proteínas de modo mais semelhante aos genes humanos.
Mesmo assim, alguns pesquisadores dizem que são necessários mais dados para fechar a questão. “Não sabemos, por exemplo, se a vulnerabilidade do feto se restringe ao primeiro trimestre ou se também é mais tardia e leva a outros problemas”, lembra o neurologista Fernando Kok, da USP. “A relação de causalidade é plausível e os sinais são fortes”, diz o infectologista Celso Granato, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Mas precisamos ter casos mais bem estudados, porque podem haver outros cofatores que ainda não conhecemos.”
“Se me perguntassem se Zika causa microcefalia, eu diria que não sei”, contou o epidemiologista Eduardo Massad no início de dezembro. Para ele, havia muitas perguntas sem reposta. “Agora, se a causalidade for comprovada”, completou, “o Zika pode se tornar o Godzilla das infecções”.


Artigos científicos e outros documentos
FAYE, O. et al. Molecular evolution of Zika virus during its emergence in the 20th century. PLoS Neglected Diseases. 9 jan. 2014.
FREIRE, C.C.M. et al. Spread of the pandemic Zika virus lineage is associated with NS1 codon usage adaptation in humans. Biorxiv.org.
ZANLUCA, C. et al. First report of autochthonous transmission of Zika virus in Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 11 jun. 2015.
CAMPOS, G.S.; BANDEIRA, A.C.; SARDI, S.I. Zika virus outbreak, Bahia, Brazil. Emerging Infectious Diseases. out. 2015.
Protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia relacionada à infecção pelo vírus Zika – http://bit.ly/1REOZ2w.

Extinção de animais pode agravar efeito das mudanças climáticas

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/12/18/extincao-de-animais-pode-agravar-efeito-das-mudancas-climaticas/?cat=noticias
ACESSO: 15/01/2016 as 19:56h

A extinção de animais frugívoros, que se alimentam sobretudo de frutos, como antas, cutias e muriquis poderá comprometer a capacidade das florestas tropicais de absorver dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. Isso porque a extinção desses animais capazes de dispersar sementes de frutos grandes mudaria a composição das florestas, afetando seu potencial para combater alterações climáticas. A relação foi observada por um grupo de pesquisadores de várias instituições brasileiras e internacionais sob coordenação do biólogo brasileiro Mauro Galetti e sua orientanda de doutorado, Carolina Bello, ambos do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, interior de São Paulo. Em um artigo publicado nesta sexta-feira, 18, na revista Science Advances, eles relacionam a composição e a abundância de espécies de árvores, bem como o tipo de dispersão de suas sementes, à padrões de dureza da madeira e altura. Essa é uma maneira de medir o quanto uma árvore pode estocar carbono.
Os pesquisadores estimaram a perda da capacidade de estoque de CO2 na Mata Atlântica a partir de diferentes cenários de defaunação, como é conhecida a diminuição acentuada da população de animais em um ecossistema, em geral induzida por atividades humanas como desmatamento e caça ilegal. Ao simular a extinção local de árvores que dependem da dispersão de suas sementes por grandes frugívoros na Mata Atlântica, os pesquisadores verificaram que a defaunação comprometeria significativamente a capacidade de armazenamento de CO2 pela floresta. Esses animais, há algum tempo se sabe, cumprem funções importantes em relação às plantas, seja por polinizar as flores ou por comer os frutos e dispersar as sementes, favorecendo a regeneração natural das florestas.
No estudo, a equipe de Galetti observou que árvores com troncos grandes e duros têm sementes igualmente grandes. Logo, quanto maior a semente, tanto maior será a árvore. Árvores grandes, por sua vez, são capazes de sequestrar e armazenar maiores quantidades de carbono. Por meio de simulações computacionais, os pesquisadores verificaram que à medida que dispersores de sementes grandes eram progressivamente extintos, também as árvores grandes tornavam-se menos abundantes. Em outras palavras, na ausência de antas, bugios e muriquis, a floresta mudava para uma composição de espécies de árvores de sementes pequenas e madeira “mole”. Com o tempo, segundo eles, a tendência é que somente as sementes menores sejam encontradas na natureza, em um efeito cascata induzido pela ação humana que pode desencadear mudanças ecológicas significativas. “As sementes de canelas, jatobás e maçarandubas, por exemplo, são grandes e dispersadas apenas por animais grandes, como antas e muriquis”, diz Galetti. “Essas árvores são as de madeira mais nobre e as que estocam mais carbono”, explica. A Mata Atlântica é um dos mais degradados ecossistemas brasileiros, do qual restam, segundo algumas estimativas, aproximadamente 12% da cobertura original – mais de 80% da vegetação remanescente encontra-se altamente fragmentada em áreas com menos de 50 hectares. De acordo com os pesquisadores, o mesmo raciocínio que eles aplicaram à Mata Atlântica pode ser extrapolado para outros ambientes, como o amazônico, cujas espécies de árvores que retêm até 50% de CO2 da atmosfera dependem em grande medida da dispersão das sementes por frugívoros de grande porte. Segundo eles, os resultados ressaltam a importância de se considerar os animais como parte fundamental no processo de redução de emissões de gases do efeito estufa por meio do armazenamento de carbono em florestas tropicais.
Projeto
Ligando defaunação e os serviços de ecossistemas de armazenamento de carbono em florestas atlânticas (nº 2013/22492-2); Modalidade Bolsa no país — doutorado; Pesquisador responsável Mauro Galetti Rodrigues (Unesp); Bolsista Laura Carolina Bello Lozano (Unesp); Investimento R$ 140.088,00 (FAPESP)
Artigo científico
BELLO, C. et al. Defaunation affects carbon storage in tropical forests. Science Advances. dez. 2015.

Químicos criam dispositivo flexível que emite luz

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/11/12/quimicos-criam-dispositivo-flexivel-que-emite-luz/?cat=noticias
ACESSO: 15/01/2016 as 19:52h

A ideia de notebooks dobráveis e papéis eletrônicos flexíveis que poderiam ser usados em painéis publicitários, revistas, livros e jornais eletrônicos e cardápios de restaurantes, parece estar mais próxima de se tornar realidade. Em um estudo publicado em novembro na capa da revista Journal of Materials Chemistry C, pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (IQ-Unesp), do campus de Araraquara, e do Laboratório de Biopolímeros e Biomateriais do Centro Universitário de Araraquara (Uniara), ambas no interior de São Paulo, relatam o desenvolvimento de um substrato flexível à base de dois polímeros de fontes naturais: celulose produzida por bactérias e o poliuretano, obtido da síntese do óleo de mamona.
O material, cuja concepção contou com a colaboração de pesquisadores também do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), em São Carlos, do Inmetro e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), foi usado como suporte para a obtenção de um diodo flexível emissor de luz (Foled, na sigla em inglês), uma das mais promissoras tecnologias para vídeo e imagem. Os Foleds são uma resposta aos esforços para obtenção de um dispositivo eletrônico que combine as propriedades ópticas do papel, como alta refletividade, flexibilidade e contraste, com a capacidade dinâmica das telas digitais convencionais que equipam notebooks e telefones celulares, por exemplo. Outras aplicações possíveis incluem dispositivos na área médica, como lentes de contato e bandagem oftalmológica, além de sistemas para a liberação controlada de fármacos e embalagens biodegradáveis.
Em 2009, o grupo de pesquisadores, coordenado pelo químico Sidney Jose Lima Ribeiro, à época orientador de doutorado do químico Hernane Barud no Laboratório de Materiais Fotônicos do IQ-Unesp, desenvolveu um protótipo de Foled à base de um substrato de biocelulose, um tipo de papel com transparência superior a 90% na região visível do espectro eletromagnético.
O substrato desenvolvido pelos pesquisadores tem uma estrutura similar a um sanduíche, segundo Barud, hoje professor e pesquisador no Laboratório de Biopolímeros e Biomateriais (BioPolMat), no Centro Universitário de Araraquara-Uniara. “Ele é composto por uma série de filmes nanométricos com propriedades e funções específicas depositados sob um substrato de vidro”, diz. Suas vantagens, descritas no artigo publicado na Journal of Materials Chemistry C, consistem no fato de ele ser feito à base de celulose bacteriana e óleo de mamona, matéria prima abundante no Brasil que pode substituir fontes derivadas do petróleo.
As vantagens da celulose bacteriana, por sua vez, estão relacionadas ao fator ambiental — sua produção não gera resíduos tóxicos ao ambiente como acontece no método tradicional de produção de celulose. Essa celulose é produzida pela bactéria Gluconacetobacter xylinus na forma de mantas altamente hidratadas. A G. xylinus usa fontes de carbono para seu metabolismo e secreta nanofibras de celulose.
Projeto
Materiais híbridos multifuncionais a base de celulose bacteriana (nº 2014/24692-1); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Pesquisador Visitante – Internacional; Pesquisador responsável Sidney José Lima Ribeiro (IQ-Unesp); Investimento R$ 45.756,20 (FAPESP).
Artigo científico
BARUD, H. S et al. Transparent composites prepared from bacterial cellulose and castor oil based polyurethane as substrates for flexible OLEDs. Journal of Materials Chemistry C. v. 3, n. 44. P. 11557-774. nov. 2015.

Doença infecciosa melioidose é mais difundida do que se pensava

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2016/01/12/doenca-infecciosa-melioidose-e-mais-difundida-do-que-se-pensava/?cat=noticias
ACESSO: 15/01/2016 as 19:49h


Enquanto as atenções estão voltadas ao desenvolvimento de formas de prevenção de doenças como febre zika, dengue e chikungunya, uma moléstia infecciosa pouco conhecida e estudada começa a chamar a atenção de médicos e pesquisadores de todo o mundo em razão do aumento do número de casos e mortes registrados nos últimos anos, sobretudo em países em desenvolvimento. Em um estudo publicado nesta segunda-feira, 11, na revista Nature Microbiology, um grupo internacional de pesquisadores, entre eles a médica infectologista brasileira Dionne Bezerra Rolim, do Núcleo de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Ceará e pesquisadora da Universidade de Fortaleza, dá uma dimensão do problema ao apresentar um mapa da distribuição global da bactéria Burkholderia pseudomallei, responsável pela melioidose, uma doença de difícil diagnóstico que pode causar febre alta, dores no peito associadas à tosse e até comprometer os pulmões, desencadeando quadros de bronquite e pneumonia.
No estudo, os pesquisadores compilaram e analisaram 22.338 de casos de melioidose em seres humanos e animais, além de registros sobre os ambientes em que essa bactéria já havia sido encontrada, entre 1910 e 2014. Eles verificaram que durante esse período a B. pseudomallei se dispersou por muito mais países do que se imaginava. Isso porque os pesquisadores estimam ter havido uma significativa subnotificação dos casos da doença em 45 países onde ela é endêmica, devido ao fato de a doença ser pouco conhecida pelos profissionais de saúde. É o caso, por exemplo, do Brasil, México, Peru e Argentina. Além deles, outros 34 países que nunca tinham registrado casos de melioidose podem ser endêmicos, como Paraguai, Bolívia e Suriname. De acordo com o estudo, o número de casos por ano no mundo é de cerca de 165 mil, dos quais 89 mil resultam em morte.
Ao que tudo indica, a América Latina está entre as regiões mais vulneráveis. Os pesquisadores estimam que, por ano, 246 milhões de pessoas possam contrair a bactéria, por meio da inalação de partículas suspensas no ar contaminadas, ingestão ou aspiração de água contaminada, inoculação em pele e mucosas com lesão. Ambientes chuvosos com altas temperaturas são considerados mais suscetíveis à presença da B. pseudomallei. Além disso, solos argilosos e modificados por conta de ações humanas, sobretudo pela agricultura irrigada, também se mostraram mais associados à presença da bactéria.
“A melioidose é uma doença de transmissão ambiental”, explica Dionne. “As mudanças climáticas podem interferir em fatores relacionados à distribuição do microrganismo no ambiente como composição do solo, precipitações e temperaturas elevadas, o que pode aumentar a dispersão da doença.” Em países em desenvolvimento, segundo ela, essas alterações são ainda mais difíceis de controlar, o que poderia indiretamente interferir na distribuição da melioidose.
No Brasil, a primeira descrição da doença foi registrada em 2003, no Ceará. Desde então, o estado continua diagnosticando casos de melioidose. O diagnóstico da enfermidade é difícil pelo fato de a doença ser pouco conhecida e não apresentar quadro clínico característico, isto é, os sintomas podem ser confundidos com outras infecções comuns. O diagnóstico só é feito por meio de cultura microbiológica, que exige estrutura laboratorial não disponível em todos os serviços de saúde do país. Além disso, a B. pseudomallei é resistente a vários antibióticos.
Artigo científico
Limmathurotsakul, D. et al. Predicted global distribution of Burkholderia pseudomallei and burden of melioidosis. Nature Microbiology. jan. 2016.

DICLOROISOCIANURATO DE SÓDIO

DISPONÍVEL: http://www.eccosystems.com.br/solucoes-ambientais/produtos_ver.php?id=7=Cloro%20Org%E2nico%20Dicloroisocianurato%20de%20S%F3dio
ACESSO: 15/01/2016 as 19:45h

Cloro Orgânico Dicloroisocianurato de Sódio denominado genericamente de cloro orgânico


CLORO ORGÂNICO

Denominado genericamente de cloro orgânico, os compostos clorados do grupo dos isocianuratos são aplicados amplamente na indústria, tratamento de ETA´s, ETE´s, agropecuária, piscinas, entre outras. Dentre eles, podemos citar dois importantes elementos dessa classe, sendo eles o TRICLOROISOCIANÚRICO e o DICLOROISOCIANURATO DE SÓDIO. Vindo prover, precisamente as deficiências dos três produtos antecessores, quanto a NÃO formação de subprodutos.

- O primeiro produto de cloro usado foi o Gás Cloro, que precisa ser acondicionado sob alta pressão em cilindros de aço, obviamente com enorme risco durante o transporte e utilização.
- O segundo foi o Hipoclorito de Sódio que só se obtém um máximo de 10% a 12% de concentração de Cloro, sendo ainda muito instável em estoque.
- O terceiro produto foi o Hipoclorito de Cálcio, já sendo em forma de pó, mas com um teor de insolúveis entre 5% a 8%.
- A quarta geração de produtos chegou no Cloro Orgânico, vindo suprir as deficiências das três gerações antecessoras, principalmente em relação a NÃO formação de subprodutos, ainda tendo vantagens como a boa estabilidade do produto, solubilidade, segurança, eficácia,etc.

DICLORO x HIPOCLORITO

1 kg de DICLORO = 2 a 3 kg de Hipoclorito de Cálcio
1 kg de DICLORO = 30 kg de Hipoclorito de Sódio

- Órgão de saúde americano aprovou o tricoloro para tratamento de água potável
O EPA - Environmental Protection Agency - responsável pela Saúde Pública Americana aprovou o uso do tricloro no tratamento da água de beber

- Estação de tratamento de água gasta 50% menos usando dicloro no lugar do hipoclorito
A SAMA - Serviço de Tratamento de Água de Mauá, SP - realizou um estudo comparando o uso do hipoclorito de cálcio e dicloro isocianurato de sódio e concluiu que o dicloro é 50% mais econômico.

- Primeira avaliação nacional dos trihalometanos na água da torneira
Environmental Working Group - 1718 Connecticut Ave., N.W., Suite 600 - Washington, DC 20009 info@ewg.org January 8, 2002. A primeira avaliação nacional de subprodutos da cloração da água para ingestão, liberada pelo Environmental Working Group (EWG) e U.S. Public Interest Research Group (U.S. PIRG), demonstrou que mais de cem mil mulheres estão sob elevado risco de aborto ou de ter filhos com má-formação, devido aos subprodutos da cloração (CBP´s) presentes na água para abastecimento municipal.

Dicloro Isocianurato de Sódio

Dicloro isocianurato de sódio é um produto clorado orgânico utilizado para a desinfecção de água para consumo humano. Autorizado para uso em E.T.A. , o dicloro isocianurato de sódio é um sólido cristalino com alto teor de cloro disponível, altamente solúvel e de fácil dissolução.
É um produto estável por longos períodos desde que estocados em condições corretas e uma vez dissolvido em água o cloro dissolvido permanece por mais tempo na água.

A MÚSICA DA ARANHA

DISPONÍVEL: http://www.nossaciencia.com.br/a-musica-da-aranha
ACESSO:15/01/2016 as 19:39 h


A aranha "sintoniza" as cordas da teia para captar informações sobre refeições e companheiros detectando as vibrações e toques nas cordas da teia, através de sensores em suas pernas. O vídeo foi produzido por Adam Cole.

A explicação, em inglês, aqui .

Um Cientista, uma história | Episódio 26: Joaquim Costa Ribeiro

Um Cientista, uma história | Episódio 25: Giuseppe Cilento

Um Cientista, uma história | Episódio 24: Marcelo Damy

Um Cientista, uma história | Episódio 23: Mares Guia

Um Cientista, uma história | Episódio 22: Ernesto Paterniani

Um Cientista, uma história | Episódio 21: Oscar Sala

Um Cientista, uma história | Episódio 20: Luiz Fernando Labouriau

Um Cientista, uma história | Episódio 19: Amadeu Cury

Um Cientista, uma história | Episódio 18: Graziela Maciel Barroso