segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Ensino de Química: SABONETES SÓLIDO

Ensino de Química: SABONETES SÓLIDO: Bolsista: Eliana                                        Olá amigos do blog! Vocês devem estar falando: de novo sabonete. De novo sabonete,...

sábado, 17 de outubro de 2015

Jeans: a relação entre aspectos científicos, tecnológicos e sociais para o Ensino de Química

DISPONÍVEL: http://dx.doi.org/10.5935/0104-8899.20150036
ACESSO: 17/10/2015 as 20:54h
 
 
O jeans faz parte da vida de pessoas de diversas faixas
etárias, culturas, religiões e gêneros, e sua presença
no vestuário cotidiano não ocorreu por imposição
de uma marca ou um estilista, mas, entre outros fatores,
pelo gosto das pessoas em usá-lo. Desse modo, passou do
uso inicialmente exclusivo dos trabalhadores das minas às
passarelas de desfiles mundiais de moda.
Em nível mundial, o Brasil é referência na produção de
jeans e movimenta um setor de R$ 8 bilhões por ano, sendo o
segundo maior produtor e terceiro maior consumidor de denim,
tecido de algodão tingido com corante índigo. Embora
a produção nacional de roupas tenha avançado 2,5% em
vendas brutas no ano de 2012, o segmento do jeans cresceu
7,9% em faturamento (ABIT, 2010).
O jeans, para ser produzido, envolve inúmeras etapas,
que têm relações diretas ou indiretas com o desenvolvimento
da ciência e da tecnologia como no cultivo do algodão, na
produção do corante índigo, na
manufatura do tecido, no tratamento
de resíduos das indústrias
têxteis, entre outros.
A produção e a comercialização
do jeans em larga escala
trouxeram benefícios e malefícios
à vida humana, tanto em caráter
social quanto ambiental, os quais têm relação direta com o desenvolvimento científico e tecnológico.
Alguns desses aspectos serão abordados neste
trabalho, que tem como intuito principal apresentar a criação
e popularização desse tecido, os processos químicos e
alguns impactos ambientais decorrentes de sua produção. A
partir disso, apontamos este como um tema possível de ser
desenvolvido no ensino de química.
 
O jeans: das minas de ouro às grifes
A descoberta de grandes jazidas de ouro gerou a chamada
Corrida do Ouro em 1848, especificamente em São
Francisco, estado da Califórnia, na qual ocorreu um aumento
populacional exorbitante devido à chegada de muitos vendedores
à cidade. Levi Strauss, natural da Bavária, residia em
Nova Iorque há alguns anos e deslocou-se até São Francisco
para vender peças de um tecido resistente a ser usado como
cobertura para tendas e vagões,
mas esse item não era uma das
principais necessidades dos mineiros,
que tinham como demanda
roupas resistentes (Catoira, 2006).
Levi Strauss acabou transformando
seu estoque em calças e,
em 1853, passou a fabricá-las a
partir do denim. O termo denim é uma abreviação de tecido de Nimes, um tecido francês vindo
da cidade de Nimes, formado de algodão tingido com corante
índigo. Feitos desse tecido, os uniformes dos marinheiros do
porto de Gênova na Itália eram conhecidos por genes pelos
franceses, apelido que chegou até os Estados Unidos da
América, onde os americanos passaram
a chamar de jeans (Balfour-
Paul, 2004; Lv; Huiguang, 2007;
Schwarcz, 1999).
O que se conhece atualmente
por calça jeans, peça do vestuário
que revolucionou a maneira de
vestir dos jovens, tornando-se
parte integrante da cultura popular
norte-americana, foi desenvolvida
por Levi Strauss. A primeira calça
com esse tecido, modelo Levi’s
501, foi criada em 1870 e, em 1873, Strauss e o alfaiate Jacob
Davis patenteavam a essa vestimenta com rebites de cobre
(Ghivelder, 2003; Catoira, 2006). Com isso, consolidou-se a
empresa de Strauss, a Levi’s®, que se mantém com as vendas
elevadas atualmente, permanecendo a calça jeans como única
peça do vestuário na história que tende à unanimidade entre
os consumidores em nível mundial.
Por meio dos filmes de faroeste, a popularidade da
peça teve início na década de 1930 com os cowboys norte-
-americanos. O cinema na década de 1950 impulsionou a
visibilidade do jeans, especificamente com atores como
James Dean e Marlon Brando, que representaram a imagem
de liberdade e rebeldia para toda uma geração. Elvis Presley
e Marylin Monroe também foram artistas que disseminaram
a calça, ligando a peça tanto ao rock and roll quanto à beleza
e sedução feminina (Monteiro, 2010). Durante a 2ª Guerra
Mundial, os soldados receberam o modelo Levi’s 501 como
artigos de necessidade e, após a guerra, deixaram muitas
dessas peças na Europa que, a partir de então, tornaram-se
itens de intensa procura (Lv; Huiguang, 2007).
O vestuário como forma de comunicação pode tornar-se
um sinalizador de determinado acontecimento (Catoira,
2006), e o jeans, ao se constituir inicialmente como contrário
à moda nas décadas de 1950 e 1960, fez parte de
importantes momentos sociais e culturais. No festival de
Woodstock, em 1969, além de milhares de jovens participantes
do evento, o músico Jimi
Hendrix, por exemplo, também
estava usando calças desse tecido
(Lv; Huiguang, 2007).
Nos anos 1960, muitos jovens
usavam as calças jeans como meio
de expressão de seu descontentamento
com a sociedade (Lv;
Huiguang, 2007). O movimento
de rebeldia da juventude a partir
da década de 1950 questionava
a estrutura econômica, política e
social da época. O que se denominou movimento da contracultura
contemplava essas e outras questões sociais como
o consumismo e, nesse âmbito, muitos adereços e comportamentos
foram incorporados pela juventude, entre eles, o
uso das calças jeans, que foi um símbolo representativo de
diversos movimentos.
A partir dessa época, o jeans passou aos poucos a fazer
parte do vestuário usual, aumentando sua popularidade, fator
que o levou às passarelas pela primeira vez na década de 1970
na apresentação da coleção de Calvin Klein (Catoira, 2009).
No Brasil, uma das primeiras marcas de jeans conhecidas
foram as calças Rancheiro produzidas no final da década de
1940. Já nos anos 1950, apareceram as calças Brim Coringa
e Jeans Far-west, todas de um jeans com aspecto duro e
resistente. Outras marcas populares no país foram Topeka,
Rodeio, Lee e Wrangler. Diversos artistas impulsionaram o
uso de jeans, como os integrantes do movimento Tropicália
– Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, entre outros
(Catoira, 2006) – e os ídolos da Jovem Guarda – Roberto
Carlos, Wanderlea, Erasmo Carlos, Eduardo Araújo e outros
–, com o surgimento, nessa época, das calças Calhambeque,
confeccionadas em cintura baixa (Catoira, 2009).
As calças jeans começam então a apresentar modificações,
em comparação ao modelo original de Strauss, tanto
no corte quanto na lavagem. O uso de pedra pomes para
criar um efeito desgastado surgiu nas décadas de 1960 e
1970, e uma das primeiras marcas a adotar esse recurso foi
a Diesel (Lv; Huiguang, 2007). Essas lavagens diferenciadas
de produção industrial para o jeans começaram a aparecer
nas ruas somente na década de 1980.
Atualmente as peças em jeans de algumas marcas fazem
parte de um projeto de design e embora muitas delas após se
consolidar no mercado tenham trazido um aspecto de luxo às
peças, em outro extremo, diversas fábricas tentam baratear
ao máximo sua produção na tentativa de comercializá-las
por preços acessíveis. Como aponta Catoira (2009), o jeans
com mais de um século e meio de existência, por ser uma
peça comum e discreta, adapta-se a muitos tipos físicos e
estilos de vestir.
Como se vê, o significado do jeans foi modificado ao
longo dos anos, pois surgiu de uma necessidade de trabalho
para uma ocupação específica como a dos mineradores,
e posteriormente foi um elemento de contestação social
especialmente pelos jovens na década de 1960. A partir de
1980, sua exploração comercial acentuou-se e passou a ser
um elemento do vestuário de muitas pessoas, os aspectos que
lhe deram origem e visibilidade nas décadas anteriores foram
perdidos ou minimizados, especialmente com a expansão
de um mercado de alta rentabilidade em torno dessa peça
de caráter universal que pode ser vista em diversos tipos de
ocasiões e perfis pessoais.
 
O índigo e o processo de tingimento
O índigo, também conhecido como anil, é o corante que
confere ao jeans seu azul característico. O termo é derivado
do grego indikon e do latim indicum e significa uma substância
da Índia, região da qual se originou. O índigo era obtido a
partir de plantas do gênero Indigofera e, em diversos países,
inclusive no Brasil, a espécie Indigofera tinctoria era de
ocorrência nativa (Lima; Ferreira, 2001). Algumas cidades
como Cabo Frio e Vassouras, ambas no estado do Rio de
Janeiro, no final do século XVIII, eram polos produtores
de anil, que era exportado para a Europa (Vita et al., 2007).
Esse corante começou a ser usado no Egito antes do ano
2000 a.C. e, nesse período, a técnica usada para sua redução
era a fermentação, que levava ao composto leuco, solúvel
em água. As folhas de Indigofera tinctoria eram usadas para
extração, e a fermentação ocorria em solução básica formando
indoxol, que é amarelo, e que, ao ser oxidado devido ao
contato com o ar, volta a índigo, que apresenta coloração azul
escuro. A estrutura do índigo foi primeiramente sugerida por
Adolf Von Baeyer em 1869, e o caminho sintético do índigo
foi viabilizado por ele após mais de uma década de pesquisa
(Vuorema, 2008; Melo et al., 2006). A primeira síntese comercialmente
bem-sucedida de índigo baseou-se no processo
publicado por Von Heumann em 1890, e a BASF iniciou a
produção em 1897 (Vuorema, 2008).
O processo de síntese do índigo usado pela indústria
ocorre a partir da oxidação de anilina (Le Couteur; Burreson,
2006; Shreve; Brink, 1997). O índigo é um composto com fórmula química
C16H10N2O2 e apresenta como característica a presença de
grupos cetônicos (C = O). É insolúvel em água, mas na forma
reduzida (C – OH), torna-se solúvel (Paschoal; Tremiliosi-
Filho, 2005). O algodão, principal componente do jeans, é constituído
por aproximadamente 90% de celulose, um polissacarídeo
de fórmula (C6H10O5)n. A celulose é composta de β-glicose, que forma longas cadeias, resultando em um
polímero que, ao ser observado em um microscópio, pode
ser visto com finas fibras.
As cadeias de celulose que formam o algodão podem conter
mais de dez mil unidades ou monômeros de β-glicose, e as
fibras de algodão são formadas por cadeias estruturadas em
paralelo ou cruzadas e unidas por ligações de hidrogênio intermoleculares,
podendo apresentar regiões cristalinas e regiões amorfas.
Somente as regiões amorfas absorvem os corantes, espaços
ilustrados em azul. A resistência mecânica da
Diferentemente de muitos corantes, o índigo se fixa na
fibra celulósica de forma mecânica e não química (Quintero;
Cardona, 2010). Detalhadamente o processo de tingimento
ocorre por meio de uma redução do índigo à forma leucoíndigo,
com ditionito de sódio em meio alcalino, para sua
solubilização em água. O índigo
tem coloração azul, mas na forma
leuco, apresenta-se em solução de
coloração amarela. Essa forma
possui alta afinidade pela fibra
celulósica e, com a exposição ao
ar, ocorre a reoxidação do índigo,
regenerando sua cor azul característica. O tingimento
acontece, portanto, primeiramente
por absorção nas zonas amorfas e
posteriormente por ligações hidrogênio
com a celulose (Paschoal;
Tremiliosi-Filho, 2005; Quintero;
Cardona, 2010).
O índigo apresenta a cor azul,
e isso se deve à propriedade dos
corantes em absorver luz visível
seletivamente (Faria; Retondo, 2008), que pode ser explicada
pela presença de grupos cromóforos tais como nitro, nitroso,
azo e carbonila. A cor é intensificada e/ou modificada por
grupos auxocromos tais como etila, nitro, amino, sulfônico,
hidroxila, metóxi, etóxi, cloro e bromo (Kimura et al., 1999).
 
A produção de jeans e os impactos ambientais
A produção de algodão representa aproximadamente
50% da produção mundial de fibras por ano. Na cultura do
algodoeiro, são aplicados 25% dos agrotóxicos consumidos
no mundo, devido à suscetibilidade desta a um grande
número de pragas (Embrapa, 2004). A calça jeans, após
sua confecção, passa por processos de acabamento como
desgaste, lavagens, aplicação de substâncias químicas como
sílica ou adição de permanganato de potássio (Figueiredo;
Cavalcante, 2010; Catoira, 2006; 2009).
Além da toxicidade envolvida no cultivo de sua matéria-
prima, na produção industrial de jeans, a etapa do
tingimento consome 90% da água de todo processo e gera
grande volume de efluentes contaminados devido ao uso de
diversas substâncias (Rossi, 2008). Dentre estas, destacam-se
a presença de corantes sintéticos e altos teores de metais
como cádmio, cromo, cobre, chumbo, mercúrio e zinco,
assim como sais, surfactantes, sulfetos, solventes, além da
coloração e de elevados índices de
acidez (Sottoriva, 2002).
O volume de resíduos contém
elevada carga orgânica e coloração
acentuada, fatores que dificultam
a passagem da radiação solar nos
cursos d’água, prejudicando a
fotossíntese, alterando o sistema
aquático e levando toxicidade
aguda e crônica a esses ecossistemas
(Paschoal; Tremiliosi-Filho,
2005; Dallago et al., 2005; Zanoni;
Alves, 2001; Vasques et al., 2011).
A remoção da cor dos efluentes
têxteis é uma das maiores dificuldades
das indústrias devido à
elevada estabilidade biológica dos
corantes, que dificulta sua degradação
pelos métodos mais convencionais e menos onerosos,
visto que sua produção visa à resistência ao suor, sabão,
água, luz ou agentes oxidantes (Guaratini; Zanoni, 2000).
Como os corantes são resistentes a muitos agentes oxidantes,
não podem ser tratados por processos geralmente
utilizados no caso de efluentes como a decomposição aeróbia
e anaeróbia (Kimura et al., 1999), portanto, processos como a
adsorção que visam à eliminação dos resíduos e concentram
os compostos tóxicos na fase sólida são recorrentes. A adsorção
é uma opção com altas taxas de remoção, conseguindo a
recuperação do próprio corante e a reutilização do adsorvente
(Dallago et al., 2005; Kimura et al., 1999).
Além dos processos físicos de adsorção com diversos
materiais como carvão ativado de coco, bambu, casca de
eucalipto ou quitosana, alternativas diversas são pesquisadas
como: uso de bactérias; fungos para degradação de diversos
corantes; utilização de reações diretas ou indiretas com o
ozônio, que rompe ligações e forma moléculas menores,
removendo a cor do efluente; degradação de compostos
orgânicos por meio de fotocatálise heterogênea; processos
oxidativos avançados do tipo Fenton; e utilização de tecnologias
de membranas como nanofiltração e ultrafiltração,
que possibilitam o reuso da água,
são alguns exemplos (Kunz et
al., 2002; Salvador et al., 2012).
Embora todas apresentem bons
resultados, nenhuma técnica isoladamente
é capaz de purificar resíduos
de natureza tão complexa,
tanto em função da diversidade
estrutural dos corantes têxteis
quanto pela dificuldade de abarcar a reutilização da água, a
remoção da cor, a diminuição do resíduo sólido e a menor
toxicidade desse efluente.
A questão dos resíduos e do tratamento de efluentes torna--se crítica ao considerarmos que um diagnóstico ambiental,
feito em 2005 pela Agência Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos de Pernambuco nas lavanderias do município
de Toritama, apontou que das 56 lavanderias industriais
visitadas, 67% não apresentavam alvará e 100% delas não
tinham licenciamento ambiental. Nesse âmbito, eram processadas
ao mês de 3 mil a 95 mil peças de jeans, de acordo
com o porte da lavanderia, e a produção de efluente industrial
gerado estava na faixa de três a quatro mil metros cúbicos
por mês (CPRH, 2005). Depois de São Paulo, Pernambuco
é o estado com a maior produção de jeans do Brasil, seguido
por Ceará, Goiás e Paraná (ABIT, 2010).
A partir dessas considerações, é possível observar que a
produção do jeans, em geral, envolve um alto impacto ambiental,
o que se deve à interação entre o elevado consumo
que exigirá uma grande produção, e esta leva à geração de
resíduos que são difíceis de tratar e, muitas vezes, chegam
a corpos hídricos de maneira inadequada.

O jeans no ensino de química
Especialmente entre os jovens, o uso de calças e outras
peças jeans é quase unânime, e sua relação direta com a moda
e o consumo tornam o tema relevante para ser abordado
no meio educacional. Além disso, à sua produção, estão
vinculados impactos ambientais, relações de trabalho nas
indústrias de jeans, onde muitas vezes há exploração de
mão de obra, aspectos diretamente relacionados ao consumismo
contemporâneo. O desenvolvimento tecnológico
vinculado à produção de jeans e ao tratamento e redução de
resíduos aliado à pesquisa científica são fatores relevantes
para discussão, pois têm relação direta com o consumo e as
criações da moda.
No ensino de química, há poucas propostas que apontam
o jeans como meio para abordagem de conceito, como tema,
ou mesmo como possibilidade de discussão de aspectos
diversos citados acima. O trabalho de Amantea et al. (2010)
propõe a utilização da história do jeans entrelaçada aos
aspectos químicos, a partir da qual realizaram palestras em
diversas escolas no estado de São Paulo, possibilitando a discussão
desses aspectos com alunos de ensino médio. Pereira
(2008) criou um módulo de ensino para a química orgânica,
que apresenta dois experimentos relacionados ao jeans. Um
deles, denominado Desbotando a
calça jeans, possibilita abordar a
oxidação de compostos orgânicos,
e o outro, Colorindo com o índigo,
traz como proposta de trabalho
conceitos de solubilidade, interações
intermoleculares, reações
orgânicas e conjugação de ligações
duplas. Nesse material, as reações
orgânicas estão diretamente relacionadas ao desbotamento da
calça jeans, aspecto desejável em muitas peças e desenvolvido
em sua produção. O módulo produzido foi apresentado
pelo autor a oito professores da educação básica para que
estes avaliassem a viabilidade e a relevância deste como
também apontassem falhas e sugestões. Um dos professores
indica a importância da descoberta da rota sintética do índigo
e sua relação com a geração de desemprego, enquanto outro
salienta a influência que o domínio da ciência e tecnologia
tem sobre um país (Pereira, 2008).
O jeans pode ser abordado no ensino médio a partir
de estratégias de ensino variadas, e há diversos conceitos
químicos que podem ser desenvolvidos e vinculados à sua
produção e consumo. O conceito de solução está relacionado
à solubilidade de corantes têxteis em água e seus impactos
como o desbotamento das roupas e a poluição de rios e lagos.
Estudar o conceito de concentração também pode envolver
os mesmos aspectos citados acima, possibilitando cálculos
de concentração com o volume de água contaminado na
produção de uma calça jeans por exemplo.
As funções orgânicas podem ser abordadas a partir da
estrutura molecular do índigo e da celulose, assim como de
outros corantes e fibras têxteis, associado à nomenclatura de
compostos orgânicos. As reações orgânicas estão presentes
especialmente no desbotamento de calças jeans pelo uso
de agentes oxidantes como cloro, ozônio e permanganato,
e os polímeros tem relação direta no modo de formação da
fibra de algodão.
O desenvolvimento tecnológico vinculado
à produção de jeans e ao tratamento e
redução de resíduos aliado à pesquisa
científica são fatores relevantes para
discussão, pois têm relação direta com o
consumo e as criações da moda.
Além dos aspectos supracitados, é possível usar questionamentos
que podem servir tanto para identificar os conhecimentos
dos estudantes sobre o tema quanto para gerar outras
questões. Alguns exemplos são: De que maneira é possível
explicar como ocorre o desbotamento das peças jeans após
sucessivas lavagens?; Por que, muitas vezes, nas etiquetas
das roupas e até das calças jeans, consta a orientação secar
a sombra?; Como pode se explicar o desbotamento provocado
em peças jeans por água sanitária?; Um tecido branco
é inserido em uma solução de corante e, ao ser removido,
apresenta a coloração da solução. Por quê? Esses são alguns
questionamentos por meio dos quais se tem fatos cotidianos
que podem ser explicados com o conhecimento químico,
assim como trazer problemáticas sociais e cotidianas para
os ambientes educacionais.
Para abordagem no ensino médio, propomos desenvolver
esse tema vinculado aos conceitos de oxidação-redução. Um
dos efeitos produzidos na indústria para dar um desgaste
específico no jeans é a lavagem com permanganato de potássio
e ditionito de sódio (conhecido comercialmente como
hidrossulfito de sódio).
O tema pode ser desenvolvido a partir da discussão dos
impactos sociais, econômicos e ambientais que o jeans
produz na sociedade, tendo como enfoque a perspectiva
Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), que apresenta como
objetivo desenvolver a alfabetização científica e tecnológica
dos cidadãos, auxiliando o aluno a construir conhecimentos,
habilidades e valores necessários para tomar decisões responsáveis
sobre questões de ciência e tecnologia na sociedade
(Mortimer; Santos, 2002). Essa abordagem apresenta-se
como meio de abordar aspectos como a produção e consumo
de jeans, pois muitos espaços educacionais não discutem
questões que envolvam aspectos científicos e tecnológicos
e têm relações diretas com as vivências dos estudantes.
O enfoque do conhecimento químico pode ocorrer acerca
da etapa de desbotamento produzido na indústria, que ocorre
por meio de reações de oxidação-redução. O uso de diversos
compostos químicos nesse processo tem relação direta com
os impactos ambientais como, por exemplo, a poluição de
rios, devido à complexidade do tratamento desses efluentes,
assim como da falta de preocupação de muitas indústrias com
esses aspectos. O rio Capibaribe, em Toritama (PE), é um
exemplo de corpo hídrico poluído majoritariamente pelas
lavanderias têxteis da indústria jeans. Questionamentos podem
ser colocados aos estudantes como: Você usa vestuário
jeans com aspecto de usado, envelhecido ou desbotado? Você
conhece de que maneira esses efeitos são produzidos? Há
alguma relação entre a química e o desbotamento de jeans?
Para realizar o experimento, em retalhos de jeans, para
conferir desgaste semelhante ao produzido na indústria,
visando ao estudo das reações de oxirredução, o permanganato
pode ser reagido com ácido oxálico ou peróxido de
hidrogênio. Nessa reação, ocorrerá a redução do manganês,
que passará do estado de oxidação +7 para +2 devido à
força do permanganato como agente oxidante, provocando
a oxidação do índigo.
O retalho jeans é umedecido com a solução de permanganato
de potássio (com auxílio de uma esponja), deixando
reagir por aproximadamente cinco minutos e, então, este é
inserido em água oxigenada comercial 10V ou solução de
ácido oxálico.
Os mesmos resultados de desbotamento podem ser obtidos
tanto com a reação 1) a partir da dissolução de um comprimido
de 0,1g de permanganato de potássio em 50mL de
água e reação com água oxigenada comercial 10V, conforme
trabalho de Pereira (2008); ou 2) solução de permanganato
de potássio aproximadamente 0,02 mol/L e solução de ácido
oxálico aproximadamente 0,04 mol/L. 
Tanto a reação com peróxido de hidrogênio quanto com
ácido oxálico podem ser desenvolvidas na escola, mas sem
isenção dos cuidados usuais de uma atividade experimental.
Ambos produzem os mesmos efeitos de desbotamento devido
à redução do permanganato, apesar de a concentração ao
usar o comprimido de permanganato de potássio ser menor
(aproximadamente 0,01mol/L). Para um desgaste mais intenso,
é indicado repetir o procedimento.
O permanganato de potássio provoca oxidação de moléculas
do índigo, produzindo uma estrutura que contém
um grupo ácido carboxílico e um grupo amida, permitindo
a solubilização em água. Os íons permanganato são reduzidos
inicialmente a óxido de manganês que tem coloração
castanha. Ao reagir o tecido jeans com o ácido
oxálico ou peróxido de hidrogênio, acontece a redução do
óxido de manganês a íons manganês II que são solúveis em
água e incolores. Além desses íons, há formação de água e
gás oxigênio no caso do peróxido e água e dióxido de carbono
no caso do ácido oxálico.
A reação de oxidação-redução entre o permanganato e o
peróxido de hidrogênio pode ser estudada com a variação do
número de oxidação do manganês ao longo do experimento,
mas também a partir de seus potenciais de oxidação e redução.
O consumo de jeans tem crescido ao longo dos últimos
anos, e a relação entre consumo e produção deve ser contemplada,
por exemplo, por meio de reportagens que tragam
problemáticas ambientais ou sociais envolvendo o jeans. Há
muitos casos de poluição, principalmente de corpos hídricos,
assim como exploração trabalhista e uso de mão de obra
escrava em fábricas de vestuário jeans. Desse modo, propicia-
se a reflexão acerca do consumo e das consequências
sociais e ambientais que este envolve.
A integração entre conhecimento químico e situações
sociais, que se inter-relacionam a aspectos políticos, éticos,
científicos e tecnológicos, permite que esse conhecimento
possa ser ampliado e vinculado a questões cotidianas, envolvendo
os estudantes em situações nas quais a ciência e
a tecnologia têm efeito direto nas condições sociais e ambientais
das comunidades.
Considerações finais
O jeans pode ser um tema relevante para abordagem
de conceitos químicos, pois além de propiciar o desenvolvimento
de aspectos referentes ao consumo e à produção,
possibilita aos estudantes estabelecer relações entre itens de
seu vestuário, conceitos como ligações químicas, oxidação,
redução e equilíbrio químico, associados a eventos comuns
como desbotamento e tingimento de roupas.
Consideramos que os diversos pontos que podem ser
desenvolvidos a partir do tema jeans permitem a discussão de
inúmeras questões sociais, as quais deverão ser selecionadas
pelo professor a partir das necessidades de seu contexto e/ou
dos interesses dos estudantes. Além destas, aspectos como as
contribuições e os retrocessos que a ciência traz em âmbito
social, tecnológico e econômico são pontos relevantes para
a discussão no espaço escolar.
Acreditamos que o tema jeans, ao possibilitar diversos
encaminhamentos frente ao ensino de conceitos químicos,
configura-se como uma importante opção para ampliar a
visão da própria ciência química e discutir os impactos da
ciência e da tecnologia na sociedade.
 
Sinara München (sinaramunchen@yahoo.com.br), licenciada em Química, mestre e
doutoranda em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), é doutoranda em Educação em Ciências: Química
da Vida e Saúde pela UFSM. Santa Maria, RS – BR. 
Martha Bohrer Adaime (adaimeccne@yahoo.com.br), graduada em Química Industrial pela UFSM, doutora
em Química pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), é professor
Titular da UFSM. Santa Maria, RS – BR. 
Leinig A. Perazolli (leinigp@iq.unesp.br), graduado em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Maringá,
mestrado em Engenharia Química pela UNICAMP, doutorado em Química pela
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é professor livre docente IQAr –
UNESP. Araraquara, SP – BR. 
Bruno Estevam Amantéa (bruno.amantea@yahoo.com.br), graduado em Química pela UNESP. Araraquara, SP – BR. Maria Aparecida Zaghete (zaghete@iq.unesp.br), mestrado e doutorado em Ciência e Engenheira de
Materiais na UFSCar, é professora livre docente do Departamento de Bioquímica
e Tecnologia de Química da UNESP. Araraquara, SP – BR.
 
 
Referências
ABIT. Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção.
Perfil do Setor em 2010. Disponível em: <http://www.abit.org.
br/site/navegacao.asp?id_menu=1&id_sub=4&idioma=PT>.
Acesso em: 10 nov. 2013
AMANTÉA, B.E.; ZAGHETE, M.A.; PERAZOLLI, L. A
química e a história da calça jeans. In: CONGRESSO PAUJeans,Química e História179
Quím. nova esc. – São Paulo-SP, BR. Vol. 37, N° 3, p. 172-179, AGOSTO 2015
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2010. Anais... Campinas, 2010.
BALFOUR-PAUL, J. Indigo a magical dye: geographical.
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CATOIRA, L. Jeans: a roupa que transcende a moda. Aparecida:
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______. Moda jeans: fantasia estética sem preconceito. Aparecida:
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Abstract: Jeans: the relationship between scientific, technological aspects and social for Chemistry Teaching. This article shows the history and changes of
jeans, according to the fashion trends and culture, throughout the 20th century. The tincture processes are approached in the chemical knowledge perspective,
as well as its relations with technology, environmental and social impacts. Some topics that can be developed in the teaching of chemistry in high school from
the jeans topic are pointed out and, specifically, it is proposed the jeans approach for the study of the oxidation-reduction concept.
Keywords: jeans; indigo ink; tincture processe.