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ACESSO: 13/06/2015 as 23:38h
Transmitida pelo mosquito 'Aedes aegypti', que também atua
como vetor da dengue, a nova doença se espalha pelas Américas e já teve
casos de transmissão registrados no Brasil.
Vários fatores têm contribuído para a ocorrência de surtos
localizados ou amplas epidemias causadas por arbovírus – termo derivado
da denominação, em inglês, dos vírus transmitidos por artrópodes (arthropod-borne virus).
São exemplos o enorme deslocamento de pessoas em todo o planeta, a
rapidez das viagens, a expansão da ocupação humana, a destruição de
ambientes naturais e o aquecimento global. Além disso, o genoma dos
arbovírus, composto por ácido ribonucleico (RNA), apresenta alta taxa de
erros em sua replicação, aumentando a frequência de mutações que podem
facilitar a adaptação desses vírus a variadas condições.
O chikungunya, um arbovírus de origem africana, é uma dessas novas
ameaças à saúde humana. O primeiro surto documentado causado por esse
vírus ocorreu em 1952 e 1953, na Tanzânia. Periodicamente, pequenos
surtos são registrados na África, na Índia e no Sudeste Asiático, mas, a
partir de 2004 e 2005, grandes epidemias ocorreram no Quênia (também na
África), em diversas ilhas do oceano Índico e na Índia. Os últimos 10
anos mostraram uma dispersão global do vírus: nesse período, mais de 6,5
milhões de casos foram notificados. De doença tropical negligenciada, a
febre chikungunya tornou-se um risco global à saúde.
No final de 2013 foram detectados os primeiros casos, nas Américas,
de infecção autóctone – quando a transmissão ocorre por meio de
mosquitos nativos. A partir do final de 2014, a febre chikungunya se
dispersou para a maior parte das ilhas do Caribe e para países da
América Central, do Norte e do Sul, incluindo o Brasil. Desde a chegada
do vírus às Américas, a Organização Panamericana da Saúde contabiliza
1,3 milhão de casos suspeitos, com 29,7 mil casos confirmados e 184
mortes.
No Brasil, Amapá, Bahia, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Minas
Gerais e Roraima já notificaram casos autóctones. O alto índice de
infestação pelos principais mosquitos transmissores (Aedes aegypti e Aedes albopictus),
a falta de imunidade da população brasileira e o alto número de vírus
no sangue na fase aguda da doença em humanos não permitem descartar a
probabilidade de grandes epidemias no país.
O vírus e a transmissão
O vírus chikungunya (ou VCHIK) pertence ao gênero Alphavirus e à família Togaviridae.
Seu genoma do tipo RNA tem uma cadeia simples de cerca de 11,7 mil
nucleotídeos (as unidades das moléculas genéticas), que contêm
instruções para a síntese de proteínas, tanto as necessárias à
replicação viral quanto as que formam os envoltórios virais (o capsídeo,
interno, e o envelope externo).
- Transmissões autóctones do vírus foram registradas em diversos países das Américas, inclusive no Brasil. A transmissão é facilitada pela grande presença do seu vetor, o 'A. aegypti'. (imagem: Reprodução)
O VCHIK tem dois ciclos de transmissão. No ciclo silvestre, a transmissão ocorre entre mosquitos do gênero Aedes
e macacos ou pequenos mamíferos. No ciclo urbano (endêmico ou
epidêmico), a transmissão se dá entre mosquitos e humanos.
Acreditava-se, até recentemente, que apenas o A. aegypti transmitia o chikungunya, mas o A. albopictus
também adquiriu essa capacidade, graças a uma mutação no gene associado
a uma das proteínas do envelope (detectada em estudos genéticos).
No Brasil, essas duas linhagens do vírus já foram encontradas, o que amplia sua capacidade de dispersão, já que o A. albopictus tem ampla distribuição e hábitos diurnos, como o A. aegypti, mas é mais agressivo, vive mais tempo, resiste a temperaturas mais baixas e pode ocorrer em cidades ou áreas rurais.
Claudia Nunes Duarte dos Santos Instituto Carlos Chagas/ Fiocruz PR
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