terça-feira, 9 de junho de 2015

CARBONO NA AMAZÔNIA.....

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/05/15/campeas-amazonicas/
ACESSO: 09/06/2015 as 15:26h

 
 Armazenadoras: árvores de grande porte incorporam mais carbono


Nenhum ecossistema da Terra estoca tanto carbono como a Amazônia. Contendo de duas a quatro centenas de bilhões de árvores, a maior floresta tropical do mundo armazena 17% de todo o carbono retido pela vegetação terrestre do planeta. Uma equipe internacional de pesquisadores verificou, porém, que apenas 1% das espécies de árvores da Amazônia responde por metade do armazenamento e da produção desse carbono (Nature Communications, 28 de abril). O estudo foi liderado por Sophie Fauset, bióloga da Universidade de Leeds, no Reino Unido, que atualmente realiza um estágio de pós-doutorado na Universidade Estadual de Campinas, e envolveu a participação de colaboradores de 64 instituições europeias, norte-americanas e sul-americanas (11 delas, brasileiras). Já se sabia que, apesar da grande diversidade de árvores amazônicas, poucas das 16 mil espécies dominam a floresta: metade das árvores da região pertence a apenas 227 espécies. Agora os pesquisadores analisaram dados sobre 200 mil árvores de 3.458 espécies, coletados em 530 locais espalhados pela Amazônia, e concluíram que a capacidade da floresta de produzir e armazenar carbono é ainda mais concentrada. Apenas 147 espécies de árvores, a maioria delas de grande porte, concentram metade da biomassa da floresta. Sophie e seus colegas alertam, entretanto, que essa conclusão não significa que a diversidade amazônica não seja importante para garantir a sobrevivência da floresta no longo prazo. Alterações no clima do planeta podem levar outras espécies a se tornarem dominantes.

DIPLOMATAS NO LABORATÓRIO

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/05/15/diplomatas-no-laboratorio/
ACESSO: 09/06/2015 as 15:24h



Nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, a cidade alemã recebeu mais do que delegações de atletas e turistas. Desembarcaram também na “nova” Alemanha os primeiros estudantes latino-americanos atraídos por cursos, congressos e visitas a instituições médicas do país. As excursões cresceram nos anos seguintes, tornando-se itinerantes. Do Brasil, jovens graduandos, principalmente da Escola Paulista de Medicina, visitaram hospitais, laboratórios e órgãos oficiais, em missões médico-diplomáticas manejadas por ministérios à época dominados pelo Partido Nazista. Algumas eram promovidas pela Academia Médica Germano-ibero-americana, fundada em 1935. O objetivo era fomentar as relações médicas entre Alemanha e países da América Latina.
“A medicina teve papel importante nessas relações diplomáticas porque gozava de grande prestígio internacional, embora não fosse uma ferramenta tão visível de propaganda cultural”, diz o historiador André Felipe Cândido da Silva, da Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). “Durante o nacional-socialismo, a corporação médica alemã foi um dos segmentos que se alinhou mais estreitamente ao novo regime. Os médicos, como representantes da arena acadêmica, eram porta-vozes convictos do intenso nacionalismo vigente. E havia a dinâmica indústria farmacêutica, com interesse em consolidar seus laços com clientes estrangeiros.” Silva explorou o papel da ciência na diplomacia cultural alemã entre 1919 e 1950, com ênfase na década de 1930, durante pós-doutorado realizado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Por diplomacia cultural entenda-se o esforço germânico que congregou diplomatas e cientistas, universidades, empresas e companhias de navegação, entre outros atores.
Além das expedições científicas de estudantes, enfermeiros, docentes, pesquisadores e até pacientes, algumas estratégias articulavam médicos e diplomatas entre Brasil e Alemanha. Havia periódicos especializados, como a Revista Médica de Hamburgo, fundada por Ludolph Brauer, organização de encontros científicos internacionais, campanhas sanitárias, consolidação de produtos da indústria farmacêutica alemã e construções de hospitais por vezes voltados à assistência de imigrantes.
Enquanto no Brasil – especialmente no circuito Rio-São Paulo – as faculdades de medicina ganhavam corpo, com maior especialização e interesse tecnológico, sofisticação das técnicas de intervenção cirúrgica e avanços em procedimentos de diagnóstico e profilaxia, a Alemanha já era ponta de lança do desenvolvimento científico. Ali foi elaborado o modelo médico que alicerçou a formação contemporânea com o tripé ensino, assistência clínica e pesquisa universitária em Berlim, Göttingen, Heidelberg e Munique. Descobertas clínicas e inovações cirúrgicas vinham de laboratórios de universidades, indústrias e institutos alemães, que contavam com expoentes como Robert Koch, Rudolf Virchow, Paul Ehrlich, Emil Kraepelin, Emil von Behring, August von Wassermann, entre outros.
© ARQUIVO POLÍTICO DO MINISTÉRIO DAS RELA ÇÕES EXTERIORES EM BERLIM
Estado da Bahia noticia a visita de Ludolph Brauer, da Universidade de Hamburgo, a Salvador em 1935
Estado da Bahia noticia a visita de Ludolph Brauer, da Universidade de Hamburgo, a Salvador em 1935
As ciências tiveram impacto no contexto político, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. “Tornaram-se ingredientes importantes do prestígio nacional, ainda mais no ambiente de intenso nacionalismo”, diz Silva. Na análise do historiador, a experiência da Primeira Guerra já tinha demonstrado a importância de estruturar complexos nacionais de pesquisa científica, aliando instituições acadêmicas, indústrias, militares e Estado. “Além disso, o discurso científico contribuiu para legitimar ambições territoriais e pretensões de superioridade nacional e racial importantes para conquistar a adesão interna e a externa, de aliados”, observa.
Superioridade cultural
De acordo com Silva, médicos alemães se envolveram na propaganda cultural, persuadidos pela superioridade de sua cultura. Entretanto, após a Primeira Guerra, a ciência alemã ficou relativamente isolada quando parte dos cientistas se manifestou a favor do militarismo germânico. Ademais, físicos, médicos e químicos participaram de estudos como o desenvolvimento de gases letais. A instrumentalização do conhecimento para fins bélicos levou vários países a boicotar a ciência alemã até meados da década de 1920. “É importante, no entanto, distinguir os diferentes níveis da cooperação científica transnacional para ter clareza de que muitos pesquisadores continuaram mantendo contato informal com seus pares de países outrora inimigos. Embora repercutisse internacionalmente, para os latino-americanos não teve praticamente nenhum efeito uma política de boicote levada a cabo por organizações das quais muitos deles não faziam parte”, pondera.
O patologista e microbiologista carioca Henrique da Rocha Lima, por exemplo, se tornou um dos principais colaboradores da diplomacia alemã nas décadas de 1920 e 1930. Rocha Lima descobriu a origem do tifo exantemático em 1916, no Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo. Na volta definitiva ao Brasil, em 1928, foi uma liderança marcante do Instituto Biológico de São Paulo. O patologista Walter Büngeler, alemão de Danzig (atual cidade polonesa de Gdansk), escolhido para a cátedra da Escola Paulista de Medicina, pretendia ali iniciar um núcleo alinhado à ciência alemã – e correspondeu às expectativas dos oficiais da chancelaria e do Partido Nazista, transformando a escola num celeiro científico para as iniciativas da Academia Médica Germano-ibero-americana, especialmente com as excursões de estudantes.
O intercâmbio expressivo incluiu nomes como o oftalmologista Antônio de Abreu Fialho, o psiquiatra Antônio Pacheco e Silva, o dermatologista Adolfo Lindenberg, que foram convidados a visitar a Alemanha. Do outro lado, vieram ao Brasil médicos como Franz Volhard, Helmut Ulrici e Walter Unverricht, Heinrich Huebschmann e Karl Fahremkamp, entre outros. Diretor do Hospital Eppendorf, Ludolph Brauer visitou o Rio, Salvador e São Paulo – ali ainda passou pela distante colônia de Presidente Epitácio, onde existia uma ativa célula do Partido Nazista. A deflagração da Segunda Guerra Mundial, em 1939, abalou o intercâmbio científico, que acabou a partir da entrada do Brasil no conflito, ao lado dos Aliados, em 1942.
 

Projeto
As relações científicas germano-brasileiras no contexto da medicina paulista (1919-1950)
(nº 2011/51984-5); Modalidade Bolsa de Pós-doutorado; Pesquisadora responsável Maria Amélia Mascarenhas Dantes (FFLCH-USP); Bolsista André Felipe Cândido da Silva; Financiamento R$ 227.531,91 (FAPESP).

ACORDAR E DORMIR COMO ANTIGAMENTE

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/10/acordar-e-dormir-como-antigamente/
ACESSO: 09/06/2015 as 15:21h

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Apesar de ter acesso à eletricidade como os vizinhos da cidade, moradores da área rural de Baependi, município com quase 20 mil habitantes no sudeste de Minas Gerais, preferem manter o ritmo de sono natural, perdido com a possibilidade de iluminação artificial nas casas depois da Revolução Industrial, e acordar cedo e dormir cedo (Scientific Reports, março). Em um estudo comparativo, pesquisadores da Universidade de Surrey, Inglaterra, e da Universidade de São Paulo perguntaram a 729 moradores da cidade e outros 96 da zona rural a que horas costumavam acordar e dormir. Os moradores da zona rural preferiam pular da cama em média às 6h30 e deitar-se às 21h20, indicando um estilo de vida conservador, enquanto os da cidade acordavam às 7h15 e dormiam às 22h30. Em Londres, os horários médios de acordar e dormir eram 8h30 e 23h15. Os pesquisadores acreditam que os moradores da cidade seguem menos o ciclo natural do sono, que implicaria acordar e dormir mais cedo, e dormem menos que os vizinhos do campo, por causa da influência da iluminação artificial.

BORRACHA DE DENTE-DE-LEÃO


DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/05/15/borracha-de-dente-de-leao/
ACESSO: 09/06/2015 as 15:20h

O dente-de-leão russo (Taraxacum kok-saghyz), planta rústica comum em regiões de clima temperado e subtropical, produz um complexo de proteínas que desempenha um papel-chave na produção da borracha natural. Pesquisadores da Universidade de Münster, do Instituto Fraunhofer de Biologia Molecular e Ecologia Aplicada (IME) e da Universidade Técnica de Munique, todos na Alemanha, em colaboração com a empresa TRM, de York, no Reino Unido, descobriram dois componentes para o processo de biossíntese da borracha de dente-de- -leão, o que poderá levar ao desenvolvimento biotecnológico do produto com diversas aplicações médicas e industriais. Uma das proteínas identificadas funciona como ativador do processo de produção da borracha. Os resultados do estudo foram publicados na edição on-line de 27 de abril da revista Nature Plants. Outra proteína identificada é responsável pela formação de cadeias longas de um polímero que confere à borracha as propriedades de elasticidade e resistência.

BIODIESEL DE MORINGA

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/05/15/biodiesel-de-moringa/
ACESSO: 09/06/2015 as 15:17h

 Extrato das folhas da Moringa oleifera serve como aditivo antioxidante

O óleo das sementes da Moringa oleifera, árvore originária da Índia e comum no Nordeste do Brasil, pode ser usado na produção de biodiesel, e o extrato de suas folhas, na produção de aditivos antioxidantes que retardam a degradação química do combustível. A conclusão é de pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Minas Gerais. Em um estudo publicado na revista Fuel de 15 de abril, eles produziram biodiesel de moringa com propriedades físico-químicas dentro das especificações dos órgãos regulatórios. O biodiesel de moringa apresentou uma estabilidade oxidativa superior à da maioria dos combustíveis produzidos no país. A estabilidade oxidativa refere-se ao período em que ele consegue manter certas propriedades antes de se degradar. Essa reação química, chamada de oxidação, leva à produção de compostos que podem corroer as peças do motor e obstruir o sistema de injeção. Assim, quanto mais um combustível demora para oxidar, melhor a sua qualidade e eficiência. No estudo, os pesquisadores adicionaram um extrato da folha da árvore a amostras de biodiesel feitas de soja, milho, canola e girassol. Com isso aumentou a estabilidade oxidativa desses combustíveis. “Nossos resultados evidenciam o potencial antioxidante do extrato das folhas da M. oleifera como aditivo para biodiesel”, diz o químico Rodrigo Muñoz, autor principal do estudo.

CICATRIZAÇÃO CONTROLADA

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/05/15/cicatrizacao-controlada/
ACESSO: 09/06/2015 as 15:16h
Circuito eletrônico impresso aplicado em sensor flexível e transparente que avalia estado de saúde da pele


Uma placa com circuito eletrônico impresso permite analisar o processo de cicatrização da pele e avaliar a necessidade de prescrição ou não de medicamentos e o seu efeito. O dispositivo é flexível e transparente, o que facilita a sua aplicação no local do ferimento. O principal uso deverá ser no atendimento a pacientes que ficam acamados por longos períodos e desenvolvem úlceras de pressão. “O dispositivo permite detectar feridas antes mesmo de aparecerem na pele”, diz Felippe Pavinatto, do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo, que participou do projeto desenvolvido na Universidade da Califórnia em Berkeley e São Francisco durante o seu pós-doutorado com bolsa da FAPESP. O equipamento consegue captar a mudança no perfil elétrico da pele degradada (medida por uma técnica chamada impedância) e faz um mapeamento do seu estado de saúde. A pesquisa tinha como objetivo inicial desenvolver um sensor para monitorar a cicatrização de feridas crônicas e o efeito do uso de medicamentos.“No decorrer do trabalho encontramos outro uso para o sensor”, relata Pavinatto, um dos autores do artigo científico que descreve o dispositivo, publicado em 17 de março na Nature Communications.

segunda-feira, 16 de março de 2015

DESCOZINHAR O OVO....isso é possível?

Novo método “descozinha” a clara do ovo em minutos
Novo método “descozinha” a clara do ovo em minutos
© EDUARDO CESAR
DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/02/18/como-descozinhar-o-ovo/
ACESSO: 16/06/2015 as 13:58h

Um processo químico permite “descozinhar” de forma mais rápida e barata a clara do ovo e restabelecer a estrutura inicial de uma de suas proteínas mais abundantes, a lisozima (ChemBioChem, 23 de janeiro). Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Irvine e da Universidade Flinders da Austrália acrescentam à clara cozida uma substância que desmancha a parte branca e liquefaz o material. Depois disso os
trechos da proteína continuam enroscados, até que um aparelho aplica pressão e estica as moléculas de lisozima. Além do preço reduzido, o processo consome apenas alguns minutos e é 100 vezes mais rápido do que as técnicas atuais para atingir o mesmo objetivo. O objetivo final da pesquisa não é produzir um malabarismo químico para a gastronomia molecular (ver Pesquisa FAPESP nº 142), mas gerar um recurso para devolver a configuração original a moléculas grandes. Esse tipo de técnica é importante para as indústrias farmacêutica e alimentícia, que lidam com proteínas que tendem a se dobrar de maneira a impedir o seu uso.
 

Sistema de aproveitamento da água do ar condicionado


E A ÁGUA DO AR CONDICIONADO......

DISPONÍVEL:http://www.megacurioso.com.br/papo-de-bar/37339-agua-que-escorre-do-ar-condicionado-e-boa-para-beber-.htm
ACESSO: 16/03/2015as 13:27h.
 
 
Nos dias quentes, de vez em quando levamos um baita de um pingo-d’água na cabeça vindo de aparelhos de ar-condicionado nos prédios. E são milhares desses equipamentos produzindo certa quantidade de água que tem como destinos as calçadas das cidades ou as cabeças dos cidadãos.
Nos atuais modelos split, o gotejamento é menor, mas existe em um compartimento para drenagem. Será que essa água poderia ser aproveitada para outros fins mais úteis, por exemplo, para o consumo humano? O pessoal do site Slate reuniu alguns testes e pesquisas sobre esse líquido que pinga dos aparelhos.

Limpa até certo ponto

Segundo eles, de forma geral, a maior parte do gotejamento do ar-condicionado é apenas de vapor de água condensada que vem do ar do interior dos edifícios. Os aparelhos são projetados para drenar essa água na parte de trás, fazendo com que ela escorra para fora.
Na maioria dos aspectos, essa água é como a da chuva (que também se forma pelo vapor de água condensado) ou da umidade que se acumula por fora da lata de refrigerante gelado, não representando grandes riscos. No entanto, em casos raros, pequenas quantidades de água podem ficar estagnadas no interior do ar condicionador, tornando-se um meio fértil para as bactérias.

Bactérias

Em um dia quente e úmido, um aparelho pode gotejar até dois litros de água, que se acumula em sua bobina de evaporação enquanto ele esfria e desumidifica o ar. Esta bobina, como muitas canalizações utilizadas para a água potável, é feita de cobre, sendo muito mais limpa do que você poderia esperar ao olhar para um filtro de ar empoeirado.
Fonte da imagem: Shutterstock
No entanto, basta uma estagnação ou falha na drenagem para as bactérias se aproveitarem da situação, especialmente uma batizada de Legionella sp., famosa devido a um caso famoso de contaminação de ar-condicionado em um prédio durante uma convenção da Legião Americana em 1976, na Filadélfia.
Apesar disso, as bactérias mais nocivas parecem não atacar os aparelhos menores e, para os especialistas, essa água até pode ser potável e nem tão suja quanto pensamos, mas é mais seguro deixá-la apenas para regar as plantas.

segunda-feira, 9 de março de 2015

CIÊNCIA AO ALCANCE DA MÃO

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/02/18/ciencia-ao-alcance-das-maos/
ACESSO: 09/03/20150 AS 09:56h



Na entrada do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), um painel convida as pessoas a se envolverem por alguns minutos em um laboratório a céu aberto. Dispostas em uma longa mesa, amostras de compostos químicos e ferramentas simples de laboratório, como microtubos e espátulas de plástico, são usadas em experimentos. Desde setembro do ano passado, quando a iniciativa foi colocada em prática pelo professor Henrique Eisi Toma, mais de 2 mil reações químicas foram realizadas por centenas de visitantes, entre estudantes da USP e alunos do ensino médio de escolas públicas e particulares que visitam a universidade. A estrela desse laboratório improvisado é o kit de química da coleção Aventuras na Ciência, criada há oito anos por pesquisadores da USP e das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Estadual de Campinas (Unicamp). Toma, que integra o grupo, também usa o material em um curso a distância sobre ensino de ciências da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), oferecido a professores do ensino fundamental. “O objetivo é tornar o ensino de ciência mais divertido e dinâmico”, diz o professor.
A partir deste ano, a experiência deve ganhar escala nacional. Um acordo de cooperação firmado com o Ministério da Educação (MEC) em 2013 prevê a distribuição de 1 milhão de kits de ciência para mais de 22 mil escolas públicas de todo o país. A execução do projeto, no entanto, depende da retomada do diálogo com o ministério, interrompido em 2014 por conta das eleições. “Nosso grupo será responsável pela gestão do programa e pelo treinamento dos professores”, explica o físico Vanderlei Bagnato, professor da USP de São Carlos e um dos coordenadores do projeto. Além dele e de Toma, fazem parte o físico Herch Moysés Nussenzveig, da UFRJ; a astrônoma Beatriz Barbuy, o matemático Eduardo Colli, as biólogas Mayana Zatz e Eliana Dessen, da USP; e o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz.
© LÉO RAMOS
... com compostos químicos, no kit de química, e observar a estrutura de células em um microscópio, no kit de biologia
… com compostos químicos, no kit de química, e observar a estrutura de células em um microscópio, no kit de biologia
 
A coleção Aventuras na Ciência buscou inspiração em Os Cientistas, fascículos lançados em 1972 por iniciativa do professor Isaias Raw e da antiga Fundação Brasileira para o Ensino da Ciência, em parceria com a Editora Abril. Os kits eram vendidos em bancas de jornal e vinham em caixas de isopor contendo materiais simples para reproduzir experimentos ligados às descobertas de algum cientista mundialmente conhecido. Acompanhavam um folheto com instruções e um livreto biográfico. Havia, por exemplo, um sobre o químico e físico inglês Michael Faraday, e, para testar sua lei da indução, o kit trazia ímã, fios, uma bobina e pilhas.
O desejo de reeditar os kits surgiu em 2006, quando Nussenzveig apresentou a ideia a Mayana Zatz, na época pró-reitora de Pesquisa da USP, Isaias Raw e Roberto Civita, então presidente da Abril, além de representantes da FAPESP, do MEC e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). “Em 2009, percebemos que seria difícil viabilizar a volta dos kits em bancas. Roberto Civita então propôs que eles fossem vendidos ao MEC para utilização exclusiva em sala de aula”, conta Nussenzveig. No mesmo ano, foi feito o protótipo do primeiro kit, sobre óptica de raios luminosos. Em 2011, alguns modelos foram apresentados à diretoria da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao MEC, que resolveu financiar uma avaliação preliminar em escolas públicas. Entre 2012 e 2013, cerca de 6 mil kits foram entregues a mais de 2 mil estudantes de todo o país. Segundo o relatório de avaliação, 80% dos estudantes se interessaram pelos kits, afirmando que as atividades propostas estimulam a criatividade. Já 60% disseram sentir-se motivados a se reunir com colegas e familiares para falar sobre ciência.
© LÉO RAMOS
O kit de matemática ensina probabilidade usando dados e jogos
O kit de matemática ensina probabilidade usando dados e jogos
 
Em relação às instruções de uso que acompanham os kits, 57% dos estudantes sentiram facilidade para ler e entender o conteúdo. No entanto, 66% afirmaram que o texto dos manuais deveria ser mais claro e conciso. “Com base nisso, refizemos os manuais com uma linguagem mais adequada ao público jovem”, conta Eliana Dessen, professora do Instituto de Biociências da USP e coordenadora das atividades de educação e difusão do Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-tronco – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP. Ela e Mayana Zatz foram as responsáveis pela elaboração do kit de biologia.
Boa parte dos alunos também reclamou da falta de aulas práticas. No Brasil, são poucos os estudantes que ao longo da formação básica têm a oportunidade de entrar em contato com laboratórios de ciência. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão ligado ao MEC, mostram que apenas 10,6% das escolas brasileiras, entre públicas e privadas, contavam com essa estrutura em 2012. “Os laboratórios são ferramentas importantes para qualificar e tornar o aprendizado de ciências mais atraente. Mas não existe, no país, uma cultura que valorize atividades desse tipo”, afirma o físico Luís Carlos de Menezes, professor do Instituto de Física da USP e especialista em ensino de ciências.
© LÉO RAMOS
O galileoscópio: instrumento semelhante ao usado por Galileu para fazer observações do céu
O galileoscópio: instrumento semelhante ao usado por Galileu para fazer observações do céu
 
Segundo o relatório de avaliação, apenas 7% dos alunos entrevistados estavam satisfeitos com o ensino de ciências. Essa realidade foi a principal motivação para trazer de volta os kits de ciência. A geneticista Mayana Zatz ressalta, porém, que eles não pretendem substituir as aulas em laboratório. “O laboratório tem estrutura para a realização de experimentos mais complexos. Já os kits são recursos individuais para experimentação, como pequenos laboratórios caseiros”, explica Mayana. Ainda assim, os kits cumprem a função de desmistificar vários conceitos abordados em sala de aula. Aproximadamente 67% dos estudantes disseram que só conseguiram compreender plenamente um conceito científico depois de entrar em contato com os kits.
Na Escola Estadual de Ensino Médio Professor Lordão, em Picuí (PB), por exemplo, foram testados 25 kits de ciência por meio de um projeto do professor Alecxandro Alves Vieira, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). “Tenho vivenciado muitas experiências em ensino e aprendizagem, e uma das que mais trouxeram resultados satisfatórios foram os kits de ciência”, diz ele. Segundo um relatório feito em 2013, logo após a aplicação dos kits na escola, a atividade em grupo em torno dos kits promoveu mais diálogo entre os alunos e maior divisão de trabalho – algo pouco explorado em aulas expositivas.
Embora inspirada nos kits dos anos 1970, a nova versão precisou ser adaptada à realidade atual. Os antigos kits de biologia, por exemplo, vinham com materiais cortantes, como bisturis, e tecidos biológicos. “Aqueles kits jamais seriam aprovados hoje por órgãos de controle de qualidade, como o Inmetro”, enfatiza Eliana Dessen. O novo kit de biologia aborda a diversidade das células e algumas estruturas visíveis em microscopia óptica. Em vez de vir com amostras prontas de material biológico, o aluno é estimulado a coletar materiais à sua volta, como algas, plantas, insetos mortos, gotas de água e pedaços de frutas ou legumes. O manual de instruções explica como montar uma lâmina, usada no microscópio com ampliações de 75, 150 e 400 vezes. Eliana conta que o kit tem sido usado em um projeto do Cepid. “Vamos a escolas públicas da cidade de São Paulo e nelas montamos laboratórios itinerantes, que ficam disponíveis durante três semanas. Em 2015 serão atendidas 60 escolas”, diz ela.
© LÉO RAMOS
Kit de óptica utiliza prismas e espelhos para demonstrar conceitos básicos da física, como a reflexão da luz
Kit de óptica utiliza prismas e espelhos para demonstrar conceitos básicos da física, como a reflexão da luz
 
Outro kit que passou por renovação foi o de química. A versão antiga trazia produtos que podiam ser perigosos quando manipulados, como o ácido sulfúrico. Henrique Eisi Toma o substituiu pelo ácido sulfâmico, que é sólido, sem odor forte e mais seguro. Todos os reagentes utilizados foram especialmente selecionados em função da segurança, toxidade, estabilidade e facilidade de manipulação. Outra adaptação foi em relação à quantidade de material. “Os experimentos foram adaptados para a microescala. Com apenas uma pequena gota de material, é possível, por exemplo, fazer medições eletroquímicas e compreender como uma pilha funciona”, explica Toma. Também foram substituídos os equipamentos de vidro, como tubos de ensaio, por versões de plástico e menores, e foi dada ênfase ao uso de produtos encontrados dentro de casa, como vinagre e água sanitária, para calcular o valor da acidez (pH). Os pequenos tubos de plástico foram transformados em montagens para experimentos com gases, e canudos de refrigerante cortados em diagonal são usados como espátulas.
“Queremos mostrar ao jovem a ciência como uma prática. O estudante é desde cedo acostumado a lidar com os resultados finais da pesquisa, e não com o processo”, diz Vanderlei Bagnato, responsável pelo kit de física, que privilegia os conhecimentos da óptica. Em meio a prismas, espelhos côncavos e convexos e lentes, o jovem tem a chance de ver de perto os caminhos que os raios de luz delineiam. Bagnato adianta que já foram concebidos novos kits de física com temas específicos, como cores, visão e sensação, ondas e termodinâmica dos gases e também um de geologia. Alguns deles estão sendo testados por alunos e professores do ensino médio em São Carlos.
O kit de matemática também se concentra num assunto específico da disciplina, a probabilidade. “Usando objetos, como dados e bolinhas, é possível experimentar fisicamente a matemática, em vez de simplesmente aceitar os enunciados”, afirma Eduardo Colli, professor do Instituto de Matemática e Estatística da USP. Os experimentos são feitos com dados de vários formatos e outros recursos, como a caixa que simula um sorteio de amigo secreto ou os chocalhos que contêm um certo número desconhecido de bolas. O interessante é que, neste experimento, o aluno não sabe exatamente o número total de bolinhas, apenas uma aproximação, já que o kit não vem acompanhado de gabarito. “A ideia é mostrar ao estudante que a ciência está repleta de questões sem soluções”, diz Colli.
Dos cinco kits, o de astronomia é o único que não pode ser usado dentro da sala de aula. Seus experimentos giram em torno do galileoscópio, um instrumento óptico que possibilita a visualização de corpos celestes tal como Galileu Galilei os observou há mais de 400 anos. A luneta foi recriada em 2009 pela Sociedade Americana de Astronomia e adotada pela União Astronômica Internacional para o Ano Internacional da Astronomia. Com ela é possível observar, por exemplo, as crateras da Lua, as fases de Vênus e os satélites de Júpiter. “Redescobrir a ciência feita à mão, sem muitos recursos digitais, é uma experiência libertadora”, diz Beatriz Barbuy, professora da USP. A nova versão dos kits também oferece aulas e explicações em vídeo.