segunda-feira, 2 de março de 2015

QUÍMICA DA PARCERIA.......COMO TORNAR AS PRODUÇÕES ACADÊMICAS MAIS ACESSIVEIS!

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/02/18/elson-longo-a-quimica-das-parcerias/
ACESSO: 02/02/2015 as 07:45h


Especialista em materiais cerâmicos, área que abrange desde a argila para louças e peças artesanais, passando por revestimentos de fornos da indústria siderúrgica, até pisos, azulejos, sensores e semicondutores, Elson Longo tem antes de tudo uma ampla antevisão e capacidade de gestão de projetos de parcerias entre o mundo acadêmico e o da iniciativa privada. Capaz de identificar as necessidades desses dois mundos, ele tem uma trajetória eclética – e muitas vezes pioneira – no país, principalmente em projetos que levam o conhecimento científico e tecnológico para grandes empresas como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), White Martins e Faber Castell, entre outras, além de grupos de pequenas e médias indústrias em polos cerâmicos de cidades paulistas como Porto Ferreira, Santa Gertrudes e Pedreira.
A contrapartida, segundo Longo, é o aprendizado em se manter atualizado com a prática industrial, o que reverte para dentro da sala de aula, como também aproximar alunos da graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado das empresas para que conheçam a vivência empresarial. Atualmente, ele é o pesquisador responsável pelo Centro para o Desenvolvimento de Materiais Funcionais, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, e coordenador do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Materiais em Nanotecnologia, mantido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela FAPESP. Aos 73 anos, é professor emérito da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e docente da pós-graduação da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
 
Idade:
73 anos
Especialidade:
Materiais cerâmicos
Formação:
Instituto de Química da Unesp (graduação), Instituto de Química da USP (mestrado e doutorado)
Instituições:
Unesp e UFSCar
Produção científica:
915 artigos científicos com mais de 15 mil citações, orientou 59 mestrandos e 70 doutorandos e tem 38 patentes
 
Elson Longo tem uma trajetória de vida pessoal não muito comum. Entrou em 1966, aos 24 anos, na graduação do curso de química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, atual Instituto de Química (IQ) da Unesp. Antes, paulistano do bairro do Pari, havia trabalhado, ainda aos 12 anos, em uma ourivesaria. Depois, seguindo o pai, militar da cavalaria da antiga Força Pública, morou na cidade de Presidente Prudente, no oeste paulista, onde aos 13 anos começou a atender telefone na Rádio Prudente, logo se tornou repórter e chegou a ser um dos mais requisitados jornalistas da cidade, até se tornar secretário de redação do jornal O Imparcial. Militante político do antigo Partido Socialista Brasileiro (PSB), ele viu sua carreira jornalística e político-partidária interrompida com o golpe militar de 1964, aos 23 anos. Aconselhado pelo pai, voltou a São Paulo, trabalhou vendendo banana no Mercado Municipal de São Paulo e logo conseguiu dar aulas de ciências e matemática no ensino médio em um colégio estadual. Na capital paulista reencontrou também um amigo de Presidente Prudente, José Arana Varela, com quem já tinha, com outros alunos do curso científico (antigo ensino médio), feito um clube de química na mesma cidade. Com Varela, atual professor do IQ-Unesp e diretor-presidente da FAPESP, Longo firmou uma forte parceria acadêmica.
Depois os dois, já professores, Varela em Araraquara e Longo na UFSCar, montaram, junto com o professor Luiz Otávio Bulhões, o Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec), em 1988, que tem sede nas duas universidades. É o mesmo laboratório, com trabalhos compartilhados, que os fez partir para os projetos de parceria com empresas, uma prática pouco exercida na época. Hoje são 16 professores no Liec, nas duas universidades, e cerca de 110 alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.
Longo fez mestrado na USP e iniciou o doutorado no Centre de Mécanique Ondulatoire Appliquée, na França, em 1976, e finalizou na USP em 1984, quando tinha 43 anos. Na França, Longo compartilhou o período de estudos com sua esposa, a professora e socióloga Maria Aparecida de Moraes, da UFSCar, que se doutorou em sociologia. O casal tem dois filhos, a engenheira de materiais Valéria Longo, pesquisadora do Instituto de Física da USP em São Carlos, que participa ativamente na elaboração de modelos teóricos no Liec, e Elson Longo, físico de formação que preferiu ser professor de tênis e é consultor da Federação Internacional de Tênis (ITF). Em uma tarde de janeiro, Longo concedeu a entrevista na sede do Liec na UFSCar.
O senhor foi um dos pioneiros em projetos de parcerias entre universidades e empresas. Como vê esse arranjo hoje?Melhorou 100%. Na época em que começamos, eu e o professor José Arana Varela, na CSN, o pessoal via o pesquisador que estava na universidade e interagia com a indústria como alguém que estava vendendo a universidade. Não era bem-visto quem fazia isso. A ciência tinha que ser pura.
Essas críticas partiam da universidade?Principalmente de dentro da universidade. Não éramos vistos como pesquisadores. Ao longo dos anos, mudou essa ideia. Hoje, o Estado e fortes financiadores veem de uma forma completamente diferente a interação com a indústria, porque sabem que isso pode gerar riquezas para o país e também porque é muito difícil transformar conhecimento em riqueza. É preciso ter um aprendizado que não existe na universidade, é uma deficiência.
Deficiência de como funciona uma empresa?De como conversar com o empresário. Porque ele, obviamente, está fazendo um produto e, como estamos no sistema capitalista, vai pegar esse produto, vender e ganhar dinheiro. É linear. O linguajar dele, desde o início, é: “Se eu fizer alguma modificação no meu produto ou se produzir um produto completamente novo, quanto eu vou ganhar com isso?”. O empresário visa lucros, não quer jogar dados com probabilidade. Ele quer que a probabilidade seja alta a favor dele. Não acho que esteja errado. A indústria nacional, a maior parte, pelo menos, tirando as pequenas, conseguiu chegar aonde está com muito trabalho. O mais difícil é a conversa. Para aprender isso, normalmente são necessários anos e é preciso ser sincero. Às vezes, um empresário diz que viu um produto lá fora e quer fazer uma reprodução aqui. Faz um produto X, mas queria fazer um Y. Ele tem que comprar novos equipamentos, fazer investimentos grandes. Dizemos: é possível fazer do jeito que você quer, mas terá que gastar tanto. “Então não dá”, ele responde. Essa sinceridade desde o início gera confiança do empresário no laboratório e ajuda o trabalho com os pesquisadores a dar certo. Antes fazemos uma análise se é viável ou não aquele projeto.
Acabou aquele comentário “o tempo da universidade é diferente do tempo da empresa”.Esse é um ponto que não avançou muito. Os empresários sempre perguntam: para quando? Tem que deixar claro para eles que temos projetos a curto prazo, que não são inovadores, em que pesquisamos para melhorar o produto. Uma inovação é um processo bem mais profundo. Na maioria das vezes envolve equipamentos novos e a adaptação dos empregados aos novos produtos. É fundamental saber que tipo de trabalho o empresário quer fazer, discutir muito bem e deixar claro que a universidade não é um órgão de doação do conhecimento, tem que pagar por esse crescimento.
A universidade, os alunos e professores ganham o que com essas parcerias?Ganham muito. É muito simples, porque compensa para um aluno que está fazendo graduação ter contato com a indústria. Normalmente, ele vai ser professor do ensino médio ou vai ficar na universidade no mestrado e doutorado ou trabalhar na indústria. Ele sabe que tem a indústria, mas as pessoas não são aventureiras, elas gostam de ter o pé no chão. Agora, se ele tem o contato com a indústria antes, vê que não é algo tremendamente complicado. Ele viu, fez o projeto, participou, conheceu a indústria e, muitas vezes, a indústria gosta da pessoa pelo jeito, pelo conhecimento e o contrata como funcionário. E, uma coisa que fazemos na universidade, passamos 100% do conhecimento. Não queremos a indústria atrelada à universidade, porque aqui não é um departamento, um apêndice da indústria. É um centro de formação.
Que tipo de conhecimento gerado vocês passam? Patentes também?Passamos tudo para eles. Essa é uma discussão muito forte, porque a universidade quer receber uma parte e, no final, por causa desses detalhes, não ganhamos mais parceiros na indústria por isso, eles ficam reduzidos. Tem pesquisador que não consegue parceiro, porque no primeiro dia já começa a falar em patente, de toda aquela burocracia.
O empresário não gosta disso.Não gosta porque é um capitalista que quer lucros. A gente tem que entender. É do ser humano: se puder aproveitar, ele aproveita. Nós também aproveitamos o outro lado para os alunos conhecerem a indústria, estudar os tipos de aperfeiçoamento que podemos colocar em determinado setor, por exemplo. Há uma troca. A universidade ganha porque dá uma formação melhor para o aluno e o professor, que tem uma interação com essa indústria, quando vai dar aula, não vê apenas o livro, mas cria expectativas de como realmente funciona o setor industrial.
Há um tempo falava-se que a patente daria mais prestígio acadêmico.Eu concordo, eu tenho 38 patentes. O que acontece? Na indústria siderúrgica, por exemplo, nós mudamos muitas vezes o processamento do aço, e isso aí rendeu milhões para a indústria. Com a CSN, por exemplo, fiz 47 ou 48 processos, todos funcionais. Implantamos mais de 30. Implantar significa funcionar. Na prática, nosso laboratório mudou a concepção dos refratários para fabricar aço.
Em que ano?A primeira vez que estivemos em Volta Redonda foi em 1982. Havia muito acidente de trabalho e problemas técnicos. Fomos o Varela e eu. Nesse trabalho ganhamos a comida e a hospedagem, e pagamos a viagem. Então deu prejuízo. Resolvemos um problema em que técnicos japoneses queriam derrubar os dois queimadores de cerâmica. Eles diziam existir um problema de choque térmico. Fizemos uma análise que mostrou que o ar entrava com uma determinada quantidade de nanopartículas de óxido de ferro, reagia com o silício, que era o refratário, formando silicato de ferro e, por isso, o queimador estava vertendo líquidos devido à fusão desse sal. Estava havendo uma corrosão enorme do equipamento. Aí colocamos um filtro de ar e acabou o problema. Por que uma equipe que veio do Japão não resolveu? Eram técnicos de alto nível, mas desacostumados a pensar como um pesquisador faz. Perguntamos: por que está caindo o líquido? Pegamos a amostra, analisamos e vimos que era silicato de ferro, que o óxido de ferro estava reagindo com a sílica e destruindo o refratário. Se filtrasse, resolveria. O presidente perguntou se eu sabia quanto custava um filtro. Eu disse que não e ele respondeu: US$ 1 milhão. Nós falamos que se ele quisesse resolver o problema que colocasse o filtro. O presidente gostou da nossa segurança e mandou comprar o equipamento.
A parceria se prorrogou por quantos anos?Até hoje. Atualmente estamos fazendo projetos em meio ambiente, reutilizando cerca de 80% dos rejeitos da usina siderúrgica. Temos uma equipe de pesquisadores que dá consultoria para eles, comandada pelo professor Fernando Vernilli Junior [Escola de Engenharia de Lorena da USP].
Tem um custo para a universidade?Tem um custo. Fazemos um projeto, a CSN coloca esse projeto numa fundação ligada à universidade e esse dinheiro paga os alunos, as viagens, compramos equipamentos para o laboratório, fazemos a manutenção dos aparelhos. No nosso laboratório, temos vários técnicos e secretárias pagos com esses projetos.
A universidade não teria condição de pagar esses funcionários e esses equipamentos com dinheiro próprio?A universidade é um sistema complexo. Temos técnicos da universidade e eles ganham um dinheiro da fundação, como incentivo. Eu acho errado que na universidade todo mundo ganhe o mesmo salário. Quem mais trabalha, deveria receber mais; quem menos trabalha, receber menos. Sou contra essa prática de fazer a democracia da incompetência.
Como faz para medir o trabalho?É simples. Pega-se uma folhinha de papel e pergunta-se: quantos artigos publicou no ano? Quantos alunos formou no mestrado e no doutorado? Com quem interagiu em termos de empresas? Que resultado obteve? Isso tudo cabe em uma folha de papel. A grande maioria dos pesquisadores brasileiros é constituída de pessoas sérias. No entanto, há aqueles pouco produtivos.
Com quais outras empresas o senhor teve parceria?A CSN foi nossa empresa número 1. Tem a 3M, que no Brasil, juntamente com o professor Edson Leite [UFSCar], ajudamos a construir uma fábrica de varistores [semicondutor cerâmico que funciona como sensor e é capaz de proteger a rede de transmissão de energia contra raios], que quando estava funcionando os dirigentes a levaram para o exterior. A White Martins queria produzir vidros melhores e sem defeito numa atmosfera de oxigênio. Qual foi a saída? Fazer um novo tipo de refratário para viabilizar essa tecnologia, que produz vidros sem defeito. Essa é uma tecnologia que toda fábrica de vidro hoje tem.

Longo: “Existe muita coisa na literatura científica e ficamos felizes quando colocamos uma linha nova lá”
© LÉO RAMOS
Longo: “Existe muita coisa na literatura científica e ficamos felizes quando colocamos uma linha nova lá”
A White Martins repassa isso para fábricas de vidro?É lógico, porque ela vende o oxigênio. Da mesma forma, vimos que as peças de revestimento cerâmico tinham de 12% a 13% de perdas por defeito. O que fizemos? Juntamente com o professor Carlos Paskocimas [Universidade Federal do Rio Grande do Norte], colocamos oxigênio nos fornos, o que resultou em um revestimento muito melhor. Essa tecnologia, que desenvolvemos, está no mundo inteiro. Outra empresa, a Faber Castell, tinha um problema que era o seguinte: os japoneses e coreanos estavam fazendo grafite muito melhor que eles. Tentaram comprar a tecnologia e não conseguiram. Vieram ao nosso laboratório e com o professor Fenelon Pontes [Unesp] nós criamos um sistema melhor para a fabricação do grafite, e hoje eles continuam competitivos e, por sinal, com preços menores, porque nós desenvolvemos uma tecnologia de baixo custo e desempenho melhor. Por isso é importante investir na universidade e tê-la como parceira real.
A pesquisa básica está por trás de todas essas tecnologias?Aquele exemplo que eu usei da CSN explica. Tinha um prédio de 20 andares que tem oxigênio. Reaçãozinha, óxido de ferro mais óxido de silício formando silicato de ferro. Isso aí o estudante aprende no primeiro ano. É isso que a universidade dá para as pessoas. Ela ensina a pensar, porque o técnico aprende a fazer algo com muita técnica. Um professor não vai fazer igual a um técnico bem formado. Agora, aquele resultado que um pesquisador obtém, com nuances, só ele vai chegar e transformar aquilo em conhecimento. O que é conhecimento? É aquilo que é diferente de tudo que está na praça, na literatura. Existe muita coisa na literatura e ficamos felizes quando colocamos uma linha nova lá, o que não é fácil.
O senhor me falou uma vez que construiu um prédio aqui na UFSCar…Junto com a CBMM [Companhia Brasileira de Metalurgia e Metais], é esse aqui onde estamos sentados.
Como o senhor conseguiu construir um prédio dentro da universidade?O pessoal da CBMM veio propor uma parceria para trabalhar com nióbio. O Brasil é um dos maiores produtores do mundo, se não for o maior. E o produto que mais usa esse mineral é o aço nióbio, que é um aço especial. O aço especial custa 20 vezes mais que o comum e tem propriedade mecânica muito boa. Eles vieram conversar e nós fizemos uma troca. Faríamos a pesquisa e eles construiriam um prédio para nós. É o primeiro prédio construído dentro da universidade pela indústria. Foi em 1987. Além de mim, participaram o José Arana Varela e o Luiz Bulhões [aposentado, está na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul].
Vocês tiveram muita oposição na época?Muita. O pessoal dizia que a indústria estava querendo usar a universidade, a construção do prédio seria a indústria tomando posse do que era do povo. Quem nos paga é o povo e a gente tem que dar um retorno à população brasileira. Geração de riqueza é o melhor retorno. Formação de recursos humanos é fundamental, a parte principal da universidade. Mas a universidade pode fazer mais, pode ter firmas spin off, como as seis que saíram aqui do nosso laboratório e se transformaram em empresas, como a Nanox, de nanotecnologia.
Que tipo de ajuda vocês deram?Nós contribuímos com a parte de sensores, em pigmentos cerâmicos, utilizando nióbio, que muda de cor, e também colocando nióbio para estabilização da zircônia. Hoje eles não usam mais, mas foi uma tecnologia que nós desenvolvemos aqui no laboratório. Eles ficaram contentes, tanto que nem discutiram, mandaram a planta e nós acertamos a empresa para construir. Começou numa sexta e quando foi segunda, ou terça-feira, quando o engenheiro da universidade veio, já tinha 1 metro de altura o muro. Já estava cercado. É patrimônio da universidade. No começo, eles reclamaram de ter que mandar pessoal para fazer a limpeza. Os quatro primeiros anos não tivemos limpeza porque se concebia este espaço como não sendo da universidade. Às vezes, paga-se o preço por inovar, por ter novas ideias.
Como é ver agora o impulso que vocês deram para o aumento das parcerias?Hoje, vemos que aquela semente que plantamos frutificou. Existe uma grande maioria de pesquisadores que fala inclusive que não vai interagir com a indústria, mas acha importante a interação, que isso vai estabelecer novas tecnologias, que o Brasil vai ganhar. Mas existem também aqueles que se opõem a essa ideia. Há um consenso nacional de que é importante desenvolver novas tecnologias, e esse é o caminho para sairmos dessa situação de dependência econômica no mundo. A universidade não é um gueto, uma redoma de vidro com seres iluminados. É necessário não só entender as leis da natureza, mas contribuir para a transformação do mundo social.
Quando o senhor começou a trabalhar com a nanotecnologia?Em cada época o pesquisador tem que surfar em um conhecimento. O que significa? É preciso analisar de forma fria quando surgem os modismos científicos. Isso já fazíamos. Quando aumentamos a vida do cadinho [recipiente cerâmico que suporta altas temperaturas] do alto-forno, com o Sidney Nascimento Silva, da CSN, colocamos partículas de óxido de titânio que reagia com óxido de cálcio e formava titanato de cálcio, que é muito mais refratário que o próprio cadinho, que é de carbono, e isso fez parar a corrosão do equipamento. Com isso, aumentamos a sobrevida dele. Nós colocamos nanopartículas no cadinho. A gente sabia que era nano? Não se usava a palavra nano, mas era nano. Isso foi em 1991.
Não se falava ainda nos nanotubos…Ainda não tinha nanotubo, mas era nessa época. O nano surgiu porque é possível ver a estrutura da matéria e criar novos materiais. O nano só existe por causa do avanço na microscopia, se não era só imaginação. Hoje é possível ver que é verdade aquilo que imaginamos, porque dá para ver a imagem do material e imaginar o tipo de superfície, se é mais reativa que outra superfície e assim por diante. A nanotecnologia sempre existiu, desde os primórdios, antes dos vitrais da Idade Média. Na Idade Antiga, o pessoal diluía ouro e dava como remédio. Eram partículas nanométricas de ouro como medicamento. O homem já lida com nano há muito tempo, mas não usava o termo. Todo medicamento é menor que nano, é molecular. O princípio ativo da Aspirina é molecular. Quem não gosta de colocar um limãozinho no peixe ou na carne de porco? Aquilo é ácido cítrico. É molecular. Basta mudar um pouco os termos. O pesquisador surfa naquela onda do conhecimento, recebe mais financiamento e, com isso, aprimora o laboratório e as condições para a pesquisa.
Muitos produtos estão surgindo com nanotecnologia…Eu concordo, mas já existia o nano. O que não existia era pegar esse conhecimento e aplicar, e usar todas as propriedades de forma correta. Isso está sendo feito, porque o pesquisador conhece aquilo que está trabalhando, ele vê. A FAPESP financiou para nós um equipamento que vai permitir pegar uma partícula nano, fatiá-la e analisá-la.
Uma partícula de 10 nanômetros, por exemplo?De 5, de 8. Fatiar e analisar num microscópio de transmissão. Vamos entender ainda mais a estrutura da matéria. Com esse maior entendimento é possível criar novos materiais. Vamos pesquisar, comprovar, ver se existe defeito na estrutura cristalina e como ela influi na propriedade. É a história do cofre. Eu tenho um de 5 metros altura e o outro de 30 centímetros. Perguntam qual eu quero. O grandão, eu digo. Tinha R$ 1.000 no grandão e R$ 1 milhão no pequenininho. Quando é possível ver, sabemos o que tem. Se o fulano pudesse abrir a porta dos dois cofres, ele ia escolher o pequenininho, que até cabe melhor em outros lugares. O problema maior é a manipulação, mas estão surgindo muitas soluções. Há muita criatividade no processo de manipulação de partículas nano.
Há exemplos aqui?Sim, claro. Desenvolvemos partículas bactericidas na Nanox, mas não havia uma aplicação em larga escala. Agora colocamos num plástico. É um material que envolve o recipiente. Eu vejo lá em casa. Deixo a salada nesse recipiente plástico e em três dias continua a mesma, não muda nada. Os vegetais e frutas conservam-se mais. É uma tecnologa feita aqui e exportada para os Estados Unidos.
O Liec fez também parcerias com centros de cerâmica nas cidades de Porto Ferreira, Santa Gertrudes e Pedreira. Como foi?São empresas pequenas em grupos de 15 ou 20. Fizemos, analisamos custos, e eles melhoraram fortemente os produtos deles. Primeiro, chegamos em Porto Ferreira e vimos que todas as empresas tinham forno elétrico. Falamos que precisavam mudar para forno a gás, porque a energia elétrica estava cara e deficiente. Todos que mudaram e seguiram nosso conselho estão lá estabelecidos. Os que não mudaram, porque não tinham dinheiro, pereceram. Primeiro fomos para Porto Ferreira e depois para Pedreira, que têm cerâmica artística. Outra coisa que mostramos para eles: que pode ter uma argila excelente feita pela natureza, e uma argila ruim também feita pela natureza. E tem a imprestável, que tem muito material orgânico, não serve para nada. A ruim tem muita areia, sílica. E a boa tem um balanceamento bom de orgânico e sílica. O que ensinamos para eles? É preciso fazer uma análise simples de quanto de material orgânico existe no produto, quanta sílica. Ensinamos, pelo conhecimento que temos da indústria, a terem um padrão. O fulano chegava lá e tratava a indústria dele como se fosse a própria casa. A indústria precisa de padrão para não ter perdas e obter um produto de qualidade. Não é complicado, mas a grande maioria tinha aprendido com um amigo a fazer a cerâmica e pôr no forno, nem sabiam o porquê das temperaturas, colagem, porque certas vezes a colagem dava certo, certas horas não, detalhes técnicos etc. Não interferimos na criatividade dos artesãos. Não vamos falar de design, mas sim do bê-á-bá da cerâmica. Quando o professor Fernando Henrique Cardoso era presidente, a professora Rute Cardoso [fundadora da Comunidade Solidária] incentivou a nossa colaboração com os ceramistas do Vale do Jequitinhonha [Minas Gerais] e de outras regiões do país. Foi uma excelente parceria com resultados relevantes para os artesãos, porque repassamos um pouco de nosso conhecimento em tecnologia cerâmica.
Em Santa Gertrudes, são pisos e azulejos?Aí era outra história. Quem concebeu criou e trabalhou com o Liec foi o professor José Octavio Armani Paschoal, que trabalhava no Ipen [Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares]. Foi o primeiro homem a sintetizar zircônia, que usamos muito aqui no laboratório, e junto com o Liec criou aquilo que funciona hoje: padronizou a indústria cerâmica, transformando pisos e azulejos em revestimento com qualidade. E hoje Santa Gertrudes é o maior produtor de cerâmica de pisos e azulejos do mundo. Falo do mundo, porque não se sabe quanto a China produz.
Agora quero entrar na sua vida de pesquisador. Por que demorou a entrar na graduação e em fazer o doutorado?Tenho uma origem muito humilde. Sou paulistano do bairro do Pari. Meu pai era militar. Éramos uma família grande, com seis filhos. Comecei a trabalhar cedo; com 11 anos já contribuía para o orçamento familiar. Uma vez, passei num ourives, o senhor Fortunato, na rua Silva Teles, e ele me chamou para trabalhar lá. Varria, limpava, arrumava, fundia prata e ouro. Meu pai foi então deslocado para Presidente Prudente. Era militar da antiga Força Pública, da cavalaria. Fui junto, tinha 12 anos. Um dia passando em frente à Rádio Prudente, o senhor Hélio Cirino me perguntou se eu era filho do comandante da polícia e se eu não queria atender telefone na rádio. Ele tinha uns meninos lá para isso. Então, eu saía da aula e ia para lá. Fiz um teste, eu sabia escrever, e ele disse que tinha que anotar os recados exatamente como as pessoas que ligavam diziam. Mostrou os jornalistas, os radialistas que estavam lá. Eu já tinha quase 14 anos e ele me pediu para passar pela polícia e dar as notícias da polícia. Aí, um dia, ele me disse que eu seria foca [jornalista em início de carreira]. Naquela época, a primeira coisa que o foca fazia era carregar o gravador. Era um gravador de rolo, pesado. O repórter ia fazer a entrevista e eu ia junto carregando o gravador. Como eu trazia as notícias da polícia direitinho, comecei a fazer o mesmo na prefeitura e na Câmara Municipal. De uma hora para outra, era repórter da rádio, com 15 anos. Depois fui para a Rádio Record de Presidente Prudente e começaram a me pagar o dobro. Passei para a Rádio Piratininga e de lá me chamaram para escrever para o jornal O Imparcial. Ainda é o maior na região. Nesse jornal fui até secretário de redação, a segunda pessoa do jornal.
Foi até que ano?Até o ano do golpe militar, 1964. Na época, nós montamos um grupo lá e elegemos o vereador mais jovem do estado de São Paulo. Fazíamos política forte. No Partido Socialista Brasileiro, o PSB. No partido, eu era secretário.
O senhor era secretário do partido e do jornal também? Não dava conflito?Era. Não dava, porque o dono do jornal era da capital e ele nem via o que a gente fazia. E todas as rádios e jornais tinham gente nossa fazendo política. Aí, em 1964, acabou tudo. Todo mundo fugiu.
Não foram os militares que chegaram?Não, porque eu tinha a vantagem de meu pai ser militar e ele me disse para sumir que iam prender todo mundo. Fui para São Paulo, acho que tinha uns 23 anos. Passei um tempo no Mercado Municipal, vendendo banana. Mas eu tinha feito o científico, passado na Cades [Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário] e podia dar aula. Então fui dar aula de ciências e matemática em uma escola pública no bairro Alto do Mandaqui, na zona norte de São Paulo. Dei aula, continuava estudando e queria ser químico. No dia que eu estava prestando vestibular, conheci o professor Waldemar Saffiotti, que mudou os rumos da minha vida. Ele apareceu na classe e disse que nem todo mundo ia passar na USP, mas que tinha um curso novo de química em Araraquara. Então, eu saí de São Paulo, prestei em Araraquara e fiz química na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, a atual Unesp.
Deixou de fazer política?Não, fiz tanta política que fui presidente do Clube de Química de Araraquara e fizemos várias reuniões no tempo do regime militar, inclusive no congresso estadual na USP, onde todo mundo ficou com medo porque diziam que iam prender todos os estudantes. Eu era da Polop [Organização Revolucionária Marxista Política Operária, formada por membros do ex-PSB].
O senhor não foi preso?Não, porque eu não era da diretoria do centro acadêmico, que foi presa em Ibiúna [cidade paulista onde aconteceu o congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1968]. Eu também fui presidente do Clube de Química de Prudente, o primeiro laboratório do interior de química que eu, o Varela e outros construímos com o professor Elias Nahum Rahal. Nós construímos um prédio, um laboratório, porque achávamos que só podia aprender química fazendo. Como eu era jornalista, tinha boas relações, fazíamos sessões no cinema para recolher o dinheiro e construir o prédio de dois andares do Clube de Química.
O senhor já gostava de construir prédios desde aquela época…Era um clube de estudos de química para incentivar outras pessoas. Eu era jornalista e era bom de química no ensino médio. O Varela também participava e a gente se conhecia desde aquela época, em Prudente. Quando eu vim para São Paulo, onde ele também dava aula, reatamos o contato.
Já pensava em dar aula na universidade?Quando eu terminei o curso de química, vim aqui para São Carlos para dar aula no cursinho do Centro Acadêmico da USP. Peguei todas as cadeiras de química do cursinho. Passei a fazer mestrado com a professora Ivone Mascarenhas, em cristalografia, na parte de proteínas, na USP de São Carlos. Quando eu já estava determinando a estrutura de uma proteína, veio um colega e disse que a Ivone tinha falado que eu estava fazendo um bom trabalho e pediu para ver. Ele tinha um cabelão, o cabelo bateu no experimento e derrubou o cristal. É claro que foi um acidente. Eu tinha demorado seis meses para orientar o material. Aí resolvi mudar o tema da pesquisa. Vou ser teórico. Estudei mecânica quântica, fiz o mestrado com o professor Carlos Frederico Bunge, que é um dos grandes teóricos até hoje, e com isso me relacionei muito bem com o pessoal de teoria e fui para a França, no laboratório Louis de Broglie, para trabalhar com o professor Raimund Daudel, no Centre de Mécanique Ondulatoire Appliquée. Tinha dois grandes laboratórios no mundo de teoria, o de Paris e o de Estocolmo.
Para a França foi com a sua esposa, a professora Maria Aparecida, que também estudou lá?Eu a conheci nas famosas greves que nós fazíamos em Araraquara. Ela era aluna do curso de ciências sociais, estava dois anos na minha frente. Eu a conheci e tínhamos as mesmas ideias políticas, ela era da sociologia, por sinal excelente cientista social, pesquisadora dos temas rurais. Aí nos entrosamos no tempo de estudantes e estamos juntos desde então. Ela fez doutorado na Sorbonne, Paris 1 .
A parceria acadêmica com o professor Varela quando começou? O Liec é aqui na Unesp e na UFSCar?O Liec é um só, São Carlos e Araraquara. Olha o nosso exemplo. Fazendo uma análise fria, nosso centro funciona bem. Todo mundo que trabalha aqui não compete com o outro. Se eu posso ajudar qualquer um do centro, eu ajudo e vice-versa. E não é só aqui em São Paulo. Temos 12 estados em que temos pesquisadores em universidades.
Como se formam essas parcerias?Se você olhar, tem oito ou dez professores que foram nossos alunos e estão nas universidades. Cada um tem seu laboratório, mas são nossos parceiros de pesquisa. Nossa força está aí. Você não consegue fazer uma boa ciência sem ter gente trabalhando junto, questionando e municiando o conhecimento. Temos também uma boa interação no exterior, na Argentina, Colômbia, França, Portugal, Estados Unidos, Canadá e Japão, por exemplo. Na Espanha, temos o nosso maior parceiro, o professor Juan Andres, da Universidade Jaime I. Eles fizeram um levantamento das interações do grupo e a maior é com o Liec. Produzimos juntos 90 artigos. É uma parceria de 25 anos. A internacionalização está no nosso trabalho há muito tempo, e só considero uma interação internacional quando se publica o primeiro artigo.
Como é que o senhor seleciona os alunos para fazer pesquisa?Dou oportunidades iguais para todos. Quem quiser vem e quem trabalhar bem nós pleiteamos bolsa. A gente tem de tratar com muito cuidado e responsabilidade. Somos um povo pobre e que exige resultados para melhorar a sociedade. Agora, se nós que somos professores não temos responsabilidade, quem vai ter? O órgão financiador está gastando, então o aluno tem que fazer o trabalho bem, ser assíduo. É um ensinamento, uma prática pedagógica orientada para gerir com ética os recursos públicos.
E o Brasil, tem importância na área de cerâmica?É um dos mais importantes do mundo em cerâmica. Mas na parte de cerâmica de semicondutores estamos engatinhando. Temos aquela cerâmica tradicional e somos muito fortes, mas na parte de semicondutores, que dá mais retorno para a sociedade, porque eles são usados em celulares e computadores, não.
Temos chance de entrar nessa área?Isso depende de os governos federal e estadual falarem que vão investir e que querem criar condições. Se não tiver essa vontade política, não tem jeito. Falam que o novo ministro, o Aldo Rebelo, não é cientista. Agora, ele escolheu o presidente do CNPq, o professor Hernan Chaimovich, e foi uma escolha excelente. A CSN não estava falindo e não ajudamos a transformá-la numa usina que é modelo no mundo na produção de aço? A questão é: o conhecimento gera riqueza. Os políticos até hoje não sentiram isso em relação ao país. Mas acredito que o Brasil é viável.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

PRÊMIO QUÍMICA NOVA PARA NOVOS AUTORES

É de extrema importância para a Sociedade Brasileira de Química que pesquisadores jovens, no começo da sua carreira independente, prestigiem as revistas da SBQ com o envio de trabalhos de qualidade e transmitam assim esta prática para as novas gerações de jovens cientistas que estão formando.

A honraria será outorgada anualmente para pesquisador (doutor) de até 35 anos completados em 1º de janeiro do ano da premiação, associado da SBQ (em dia com a anuidade), autor de trabalho publicado em Química Nova nos volumes correspondentes aos dois anos precedentes ao da premiação. Trabalhos aceitos no período, mas não publicados nos últimos dois volumes da revista, não serão considerados, mesmo que estejam disponíveis "on line".

O prêmio consistirá numa medalha e no custeio (viagem, inscrição e estadia) para participar da Reunião Anual do ano em curso. A medalha será entregue na Sessão de Homenagens da RA. Os interessados devem submeter a sua candidatura individualmente e a documentação solicitada consistirá em:
- CV Lattes detalhado e atualizado;
- O trabalho da sua autoria publicado em QN. Só será considerado um candidato por trabalho. No caso de coautoria, a documentação deverá incluir uma carta de um coautor sênior onde seja especificada claramente a contribuição do candidato ao trabalho;
- O pesquisador poderá ser agraciado com o prêmio uma única vez;
- Todos os documentos deverão ser enviados a quimicanova@sbq.org.br em formato PDF, esclarecendo ser a candidatura ao Prêmio. A escolha será realizada por um Comitê ad-hoc de até 5 pessoas, indicado pela Diretoria e Conselho da SBQ e será presidido por um Editor de Química Nova. A data para envio das candidaturas será divulgada anualmente na homepage da SBQ, na homepage da Química Nova e no Boletim Eletrônico.

Editores de QN
Premiações Anteriores
2014 - Diogo Seibert Lüdkte (UFRGS) e Wallans Torres Pio dos Santos (UFVJM)
2013 - Frank Nelson Crespilho (IQSC - USP)
2012 - Carin von Mühlen (Feevale) e Rodrigo Alejandro Abarza Muñoz (UFU)
2011 - César Ricardo Teixeira Tarley (UEL) e Leonardo Fernandes Fraceto (UNESP)

NA PRÁTICA, É QUÍMICA!

DISPONÍVEL: http://cienciahoje.uol.com.br/alo-professor/intervalo/2015/02/quimica-na-pratica
ACESSO: 23/02/2015 AS 9h56min

Aluno do ensino médio desenvolve jogo digital que permite ao estudante manusear átomos, cadeias e ligações químicas em 3D para auxiliar no aprendizado de conceitos científicos.
Por: Isabelle Carvalho
Publicado em 18/02/2015 | Atualizado em 18/02/2015
 
Química na prática
No jogo Ligatom, é possível montar cadeias atômicas, escolhendo átomos e estabelecendo ligações entre eles de forma mais intuitiva e lúdica. (imagem: reprodução) 
                  
Visualizar e entender o funcionamento de cadeias atômicas pode ser um desafio. Uma maneira alternativa de abordar o tema em sala de aula é tentar aproximá-lo dos estudantes por meio de trabalhos práticos. Foi justamente isso que fez um aluno do 3º ano do ensino médio do Colégio Estadual Maria de Fátima de Santana, em Goiânia, Goiás. Ele desenvolveu o Ligatom, um jogo digital que ensina conceitos de química de forma fácil e divertida. “Cabe ao professor dizer se a cadeia criada está certa e, se estiver errada, ensinar como se monta de maneira correta. É uma forma alternativa de passar esses conceitos químicos.”
Tudo começou com um simples trabalho de química. Lucas dos Santos Oliveira, de 18 anos, teve a ideia de criar um software em que seria possível montar cadeias atômicas, escolhendo átomos e estabelecendo ligações entre eles – simples, duplas ou triplas – de forma mais intuitiva e lúdica. “Eu sou programador de jogos e decidi fazer um jogo que ajudasse a entender o que são cadeias atômicas”, conta. “No jogo, podem ser abordados temas como isometria espacial, geometria molecular e ângulos das ligações”, exemplifica.
No menu do jogo, o usuário pode escolher quais átomos quer usar em sua cadeia, seja enxofre, carbono, cloro ou diversos outros. Esse é o que Oliveira chama de ‘modo livre’ do jogo, em que não há vencedores ou perdedores e o jogador pode criar praticamente qualquer cadeia que desejar. “Escolhidos os átomos, o jogador vai montando sua cadeia, colocando as ligações”, explica. “Nesse modo, cabe ao professor dizer se a cadeia criada está certa e, se estiver errada, ensinar como se monta de maneira correta. É uma forma alternativa de passar esses conceitos químicos.”

Jogadas futuras

Oliveira explica que pretende aprimorar o Ligatom criando um ‘modo carreira’, uma opção de jogo um pouco mais desafiadora do que o formato atual, já que será preciso cumprir certos objetivos. “Nesse modo, será possível ganhar ou perder, pois o jogador terá que obedecer algumas regras, como que tipo de cadeia montar, quantas e quais tipos de ligações ela deve possuir e quais átomos devem estar presentes”, esclarece. “Pretendo acrescentar alguns tutoriais para ajudar nesse desafio, e os jogadores avançarão de fase se conseguirem construir as cadeias corretas sem extrapolar o limite de tempo.”
Apesar de seu potencial educacional, o Ligatom ainda não está disponível on-line ou para download. O desenvolvedor conta que tentou contato com diversas instituições para encontrar formas de disponibilizar o game, sem sucesso, e continua em busca de apoiadores e parcerias. “Fiz alguns contatos com o governo estadual de Goiás e com o Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] do estado, mas as conversas não progrediram”, lamenta. “Embora eu queira muito dar continuidade a esse projeto, confesso que não sei se será possível, já que na minha região o ramo de jogos é muito escasso.”
Além do game de química, o estudante trabalha em novos projetos educativos e já desenvolveu outros jogos digitais relacionados a matemática, empreendedorismo, religião, história e geografia.
Jogo efeito estufa
O estudante já desenvolveu outros jogos digitais, como um que trata dos gases do efeito estufa.
                                                           (imagem: reprodução)
 
“Quando tinha 15 anos, fiz um jogo de perguntas de matemática e depois criei um tipo de ‘Show do Milhão’ com perguntas bíblicas”, diz, explicando que usa um sistema chamado Unity 3D, uma associação de ferramentas e serviços que permite criar jogos. “Também fiz um em que o jogador tem que administrar uma empresa de sorvete, outro abordando como funcionavam as capitanias hereditárias do Brasil Colonial e um sobre os gases do efeito estufa.”
Sem dúvida, um bom exemplo de iniciativa criativa que pode ajudar muito o ensino brasileiro.

Isabelle Carvalho
Especial para CH On-line

É ARTE FICAR EM PÉ?????

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/02/18/a-arte-de-parar-em-pe/
ACESSO: 23/02/2015 as 9h 12min



Um fato curioso para refletir enquanto estiver parado, em pé, em alguma fila: sem a atividade constante de nervos e músculos, o corpo desabaria como uma marionete largada por seu manipulador. Para ficar em pé, parado, não basta que os impulsos elétricos transmitidos pelo sistema nervoso ordenem aos músculos que permaneçam rígidos o tempo todo. Se fosse assim, o equilíbrio do corpo humano seria idêntico ao de um cabo de vassoura: qualquer perturbação – a mais leve brisa ou mesmo a respiração ou os batimentos cardíacos – levaria à queda. Manter-se ereto sobre duas pernas exigiria a habilidade de um equilibrista de circo, que tem de se movimentar para lá e para cá para sustentar um prato na ponta de uma vareta. No corpo humano uma parte do sistema nervoso central ordena, de modo automático, a contração e o relaxamento coordenados dos músculos da perna, deixando o cérebro livre para prestar atenção ao ambiente ou divagar sobre esse tipo de curiosidade.
“Embora não se perceba, ficar em pé é um desafio constante para o sistema nervoso”, explica André Fábio Kohn, engenheiro biomédico da Universidade de São Paulo (USP). Kohn e seus alunos de doutorado desenvolveram um novo modelo para descrever como uma porção da medula espinhal – o tecido formado por neurônios agrupados no interior de um canal que atravessa os ossos da coluna – coordena a contração e o relaxamento de músculos situados abaixo do joelho. São esses músculos que controlam as rotações do tornozelo, impedindo que o corpo parado em pé caia para a frente ou para trás.
O modelo da equipe de Kohn demonstra que a medula espinhal é poderosa o suficiente para receber os sinais elétricos indicadores da tensão dos músculos, processá-los e enviar de volta comandos para controlar essa tensão, com pouquíssima ajuda do cérebro. “Algumas pessoas pensam que a medula espinhal é como um cabo elétrico que se conecta com o cérebro, apenas um feixe de passagem, mas essa ideia é errada. Se o cérebro é o equivalente a um supercomputador, a medula espinhal seria um computador muito bom.”
Os músculos simulados pela equipe de Kohn apresentam o mesmo padrão de atividade elétrica – uma combinação de sinais contínuos e intermitentes – que neurofisiologistas e engenheiros biomédicos observaram em experimentos recentes com seres humanos. Um músculo de ação rápida, o gastrocnêmio, que, além de manter a postura, ajuda a saltar e correr, atua de maneira mais pulsada, intermitente, ativado de uma a duas vezes por segundo. Já um músculo mais lento, mas mais resistente à fadiga, o sóleo, tende a ser ativado de maneira quase contínua. “Alguns músculos respondem de modo contínuo, enquanto outros de maneira intermitente”, diz a médica Júlia Greve, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP. Ela pesquisa terapias que auxiliam a recuperação de pacientes idosos ou com doenças neurodegenerativas com dificuldades de realizar movimentos e de manter a postura. “O controle do sistema nervoso sobre a sensibilidade dos músculos que Kohn modelou é uma função importante para a reabilitação dessas pessoas.”
“Quando se está em pé e se inclina um pouco para a frente, os músculos da panturrilha, o sóleo e o gastrocnêmio, se contraem, enquanto o da frente da perna, o tibial anterior, relaxa”, explica Júlia. Ao contrário, a musculatura da parte anterior da perna se contrai e a da panturrilha relaxa se a tendência é cair para trás. “Esse sincronismo é modulado em um mesmo segmento da medula espinhal; o sinal que manda um músculo contrair já faz o outro relaxar.”
Ela nota que o controle desses músculos representa apenas parte do sistema de controle postural. Para manter o corpo em certa posição, cada segmento da medula precisa de uma cópia do circuito de controle do tornozelo para os demais músculos do corpo. Além disso, a medula espinhal e o córtex motor, região cerebral responsável pelos movimentos conscientes, precisam trabalhar em conjunto para integrar as informações recebidas dos nervos ligados aos músculos com as vindas da visão, do tato e do sistema vestibular do ouvido interno, que dá a referência de onde a cabeça está em relação ao restante do corpo. “Sem essa noção, caímos”, ela diz.
Depois de algum tempo parado de pé, o corpo começa a usar outras estratégias para se equilibrar. Além da oscilação do tornozelo, o quadril passa a se mover e o apoio do peso a se concentrar ora mais em uma perna, ora em outra. “O sistema de controle postural humano é um mecanismo de extraordinária complexidade”, diz o especialista em biomecânica Daniel Boari, da Escola de Educação Física e Esporte da USP. Segundo ele, cerca de 750 músculos controlam os mais de 200 tipos de movimentos independentes que o corpo é capaz de realizar. “Cada grupo de pesquisa tem um ponto de vista um pouco diferente sobre os mecanismos neuromusculares que atuam nessas situações”, diz o engenheiro biomédico Robert Peterka, da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, nos Estados Unidos.
O engenheiro brasileiro Hermano Krebs, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), constrói e utiliza robôs com a intenção de auxiliar a fisioterapia de pacientes que perderam parte dos movimentos por lesões no sistema nervoso. Os robôs funcionam como fisioterapeutas automáticos, corrigindo os movimentos. Krebs trabalha com a equipe de Kohn em um projeto que, se der certo, permitirá que o novo modelo computacional seja usado para orientar terapias de reabilitação. “Para melhorar a reabilitação robótica, é importante olhar o problema sob vários pontos de vista, com experimentos e simulações”, diz ele.
“Não basta ser bom em matemática e computação para fazer esses modelos; é preciso estudar fisiologia e conhecer os trabalhos experimentais, de modo a melhorar a intuição sobre o problema”, diz Kohn. Ele começou a pesquisar a fisiologia do sistema nervoso ainda na graduação em engenharia elétrica na Escola Politécnica da USP, no final dos anos 1970. A origem de seu modelo para o controle da postura ereta remonta a 1994, quando passou um ano em um laboratório dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos. Ali, ele aprendeu a usar medições da atividade elétrica de nervos e músculos, registradas por eletrodos colocados na pele de voluntários, para deduzir por quais circuitos de neurônios os sinais elétricos são processados na medula espinhal.
Esses e outros experimentos revelaram que os neurônios não são simples elementos de circuitos elétricos que funcionam regularmente como relógios. Eles disparam sinais elétricos de forma abrupta e aleatória, que se refletem no movimento do corpo. Mesmo quando um soldado treina para marchar com passos regulares, há uma pequena variação no comprimento de seus passos. Mas, paradoxalmente, o movimento contínuo e suave de um músculo decorre da ação conjunta das centenas de neurônios ligados às fibras musculares, que, disparando de forma aleatória e levemente dessincronizada, suavizam a ação uns dos outros.
Combinando dados de seus experimentos e dos de outros pesquisadores, Kohn e Rogério Cisi, então seu aluno de doutorado, criaram em 2008 um modelo em computador da medula espinhal e de neurônios envolvidos no controle muscular. “Esse é o núcleo de nosso novo modelo”, explica Kohn. Em 2013, com dois outros doutorandos, Leonardo Elias e Renato Watanabe, ele expandiu o modelo de Cisi ao incluir descrições detalhadas dos músculos responsáveis por manter o tônus do tornozelo. O modelo leva em conta, por exemplo, órgãos sensitivos dos tendões e ligações entre fibras musculares e neurônios chamados de fusos musculares, que agem como sensores e informam ao sistema nervoso sobre o alongamento e a força sentida pelos músculos.
“Estamos cientes das limitações do modelo”, diz Kohn, reconhecendo a forma simplificada com que trata os elementos do sistema motor. Os dendritos, o corpo celular e o axônio de cada neurônio são representados por circuitos elétricos que incluem aspectos dinâmicos do funcionamento neuronal, o que permite reproduzir de modo mais realista a atividade de neurônios reais. A complexidade do entrelaçamento dos neurônios e das células musculares é também reduzida. Mas a simplificação mais radical é a do corpo humano como um todo, representado por uma barra fixa ao chão por uma junta móvel, que faz o papel do tornozelo. Nesse modelo, conhecido como pêndulo invertido, a barra permanece em pé pela ação compensatória do sóleo, do gastrocnêmio e do tibial anterior. “É simplificado, mas não é simples”, afirma Kohn sobre o modelo, que inclui a representação de milhares de neurônios e de 1 milhão de conexões (sinapses) entre eles em 5 mil equações matemáticas.
As simulações sugerem que o processamento de informação feito na medula espinhal consegue manter uma pessoa em pé por ao menos 30 segundos e com características parecidas com as de seres humanos saudáveis. De acordo com o modelo, a porção superior do sistema nervoso central, que inclui o cérebro, auxilia a atividade da medula ao enviar um sinal elétrico especial. “Imitamos como o sistema nervoso central, particularmente a medula espinhal, tenta processar, grosso modo, as respostas dos sentidos envolvidos em certo movimento”, diz Kohn.
“Acredito que Kohn tem o melhor modelo para representar o circuito entre a medula espinhal e os músculos”, diz Krebs, que planeja usar esse modelo às avessas. Seus robôs medem com precisão variações na estabilidade do tornozelo de uma pessoa em pé – essa estabilidade muda após um acidente vascular cerebral (AVC), porque os sinais enviados à medula espinhal diminuem. “Com menos sinal descendo, certas partes do tornozelo param de responder, já outras respondem de maneira mais ativa”, diz Krebs. “Quero fazer o inverso: colocar no modelo medidas da rigidez do tornozelo e usá-lo para descobrir como é o sinal enviado pelo cérebro à medula.”
Seria possível usar o modelo para uma terapia robótica ou projetar uma prótese que melhorasse o sinal elétrico emitido pelo cérebro de alguém com AVC? Ainda não, segundo Kohn. O maior problema é que o modelo tem muitas variáveis e, embora aja de modo natural, ainda não se entende como cada parte interage com outra. “Atualmente, o uso clínico é inviável”, admite Kohn. Krebs é mais otimista. “Cada vez que encontro Kohn, sua equipe está mais próxima dessa possibilidade.”

CUIDADO COM O SOL.....ELE VAI TE PEGAR!!!!!!

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/02/19/residuos-de-melanina-danificam-dna/
ACESSO: 23/02/2015 as 9h06 min



      Sob a ação da luz solar, o pigmento da pele, a melanina, pode se fragmentar e formar compostos químicos muito reativos que podem danificar a estrutura da molécula de DNA, mantida no núcleo das células, e facilitar o desenvolvimento de câncer de pele, de acordo com um estudo publicado na revista Science desta semana (20 de fevereiro).
       O ataque ao DNA pode persistir por mais de três horas após a exposição direta à luz do sol, segundo esse trabalho, indicando mais uma limitação da ação dos cremes protetores aplicados à pele para proteger contra os efeitos prejudiciais da radiação ultravioleta da luz solar.
         “O protetor solar não vai prevenir totalmente os danos ao DNA, que continuam mesmo depois da exposição ao sol”, diz o químico Etelvino Bechara, um dos autores do artigo, professor ligado à Universidade de São Paulo (USP) e à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
         Com base nesse trabalho, Bechara recomenda ainda mais cuidado com o bronzeamento artificial e alerta para a necessidade urgente de formulações, na forma de cremes, que possam impedir a formação dos compostos lesivos ao DNA mesmo depois da exposição ao sol. Uma possibilidade, apresentada no estudo, é o uso de ácido sórbico, um aditivo de alimentos, embora sua eficácia, dosagem e forma de aplicação ainda não tenham sido estabelecidos.
         Camila Mano, do Instituto de Química da USP, é a outra autora brasileira desse trabalho. Por sugestão de Bechara, ela foi à Universidade Yale, nos Estados Unidos, integrou-se ao grupo de Douglas Brash e fez parte dos experimentos que revelaram as reações que danificam o DNA e podem levar à formação de células anormais, que, se não contidas, podem gerar tumores.
          Normalmente, nas células produtoras de melanina, a radiação ultravioleta do sol forma os chamados dímeros (compostos químicos com duas unidades) de timina e citosina, dois componentes básicos do DNA. Esses componentes, agora unidos (dímeros) em vez de estarem sozinhos, podem alterar o funcionamento do DNA no momento da multiplicação celular. As células dispõem de mecanismos de reparo de DNA que desfazem parte dos dímeros.
         A melanina, o pigmento escuro da pele, pode impedir a formação dos dímeros. O que os pesquisadores viram nesse estudo foi um caminho bioquímico novo que leva a um efeito oposto, fazendo a melanina formar dímeros, prejudiciais ao DNA.
       Os pesquisadores observaram que a melanina poderia induzir a formação de dímeros de pirimidina (timina e citosina) por pelo menos três horas após a exposição direta à radiação ultravioleta do sol, desse modo reduzindo a eficácia dos mecanismos de reparo da molécula de DNA e facilitando a propagação de mutações genéticas prejudiciais.
         Segundo Bechara, a melanina da pele se fragmenta e gera um composto químico muito reativo, uma cetona triplete (com dois elétrons desemparelhados). Esse composto transfere energia para o DNA, formando os dímeros. Nesse experimento, os pesquisadores verificaram que os dímeros de pirimidina formados na ausência de luz formam a maioria dos dímeros responsáveis pela destruição do DNA. Esse tipo de fenômeno é chamado de fotoquímica no escuro e, enfatiza Bechara, havia sido proposto na década de 1970 por Emil White, da Universidade Johns Hopkins, e por Giuseppe Cilento, do Instituto de Química da USP. “A fotoquímica no escuro amplia as reações lesivas ao DNA iniciadas pela radiação ultravioleta”, diz ele. Segundo o pesquisador, esse tipo de reação tem sido identificado em fenômenos biológicos, mediados por compostos químicos de alta energia, em raízes de plantas e órgãos de animais, como o fígado.
​A melanina pode também reagir com a luz visível, absorvendo e depois transferindo parte de sua energia para ​moléculas de oxigênio, gerando formas altamente reativas, o chamado oxigênio singlete. O oxigênio excitado pode reagir como reage com moléculas como o DNA, danificando-as, conforme estudo recente de pesquisadores de São Paulo e do Paraná.
 
 
Artigos científicosPREMI, S. et al. Chemiexcitation of melanin derivatives induces DNA photoproducts long after UV exposure. Science, v. 347, n. 6224, p. 842-847. 19 fev 2015.
CHIARELLI NETO, O. et al. Melanin photosensitization and the effect of visible light on epithelial cells. PLoS ONE. 18 nov. 2014.​

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

PELE ARTIFICIAL

DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/02/04/pele-artificial-2/
ACESSO: 16/02/2015 AS 10:09h.




O país registra cerca de um milhão de pessoas por ano com queimaduras. Desse total, 2.500 morrem. Os acidentes com fogo são a segunda causa de morte na infância no Brasil. Esses números fizeram com que a criação em laboratório de substitutos de pele para uso como enxerto se tornasse um importante foco de pesquisa nos últimos 30 anos. Agora, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) constataram em ensaios laboratoriais a eficácia de um substituto cutâneo tridimensional tendo em sua composição uma substância extraída de uma árvore nativa do país, a copaibeira (Copaifera langsdorffii). Veja no vídeo produzido pela equipe de Pesquisa FAPESP como esse substituto cutâneo poderá ser usado como possível enxerto no tratamento de queimaduras e lesões graves.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

POR QUE TENHO DE ESTUDAR QUÍMICA???????

      Bem, que professor nunca escutou essa pergunta? E mais, qual aluno nunca a fez ou sentiu vontade de fazer? Pensando nisso, estou disponibilizando algumas justificativas além da clássica: PARA NÃO SER IGNORANTE, NO SENTIDO DE IGNORAR A EXISTÊNCIA!!!!!
Podemos iniciar a partir do conceito básico dessa ciência: QUÍMICA ESTUDA A TRANSFORMAÇÃO DA MATÉRIA........
       A transformação da matéria é o que podemos chamar de "Coração da Química". É na reação química, que transforma os diversos tipos de matéria em substâncias desejadas, que se reunem todos os conhecimentos existentes sobre essa ciência cativante.
      A partir da transformação da matéria rxistente em material necessário, a Química alcança um dos seus objetivos primordiais: servir à sociedade, melhorando as condições de vida e convivência.
      A transformação da matéria, assim vista, é estudada em diversos campos de atuação científica. Daí indagar-se, por exemplo, se os processos biológicos são de natureza química e que a transformação ocorrida nos alimentos, no interior do corpo humano, gerando energia é um processo químico. As pesquisas fundamentadas nas estruturas moleculares das proteínas, hormônios, enzimas, etc. utilizam os conhecmentos da Química; os processos fisiológicos, bem como os detalhes do funcionamento do corpo humano são processos de origem química. 
       Por outro lado, a Química está estreitamente ligada às pesquisas que objetivam diminuir a fome no mundo. A produção de sementes especiais, a fabricação de fertilizantes adequados às realidades, o preparo de pesticidas que alcancem seus objetivos com o mínimo de dano ao homem e ao meio ambiente estão na esfera de pesquisa da Química Agrícola. Isso sem contar nas inúmeras pesquisas que tentam desenvolver nutrientes sintéticos.
       A cada dia que passa, novas ligas são testadas na tentativa de encontrar estruturasmetálicas leves, resistentes, duráveis e de difícil reação, objetivando melhor servir a população e facilitar o avanço da tecnologia. Quem poderia supor, há algumas décadas, a existência do aço inoxidável ou do vidro à prova de bala?
       No campo da energia, a Química participa de maneira intensa e decisiva. Antes, possuíamos apenas as fontes térmicas (geradores a diesel ou a carvão) ou fontes hidroelétricas. Hoje, além dos derivados de petróleo, temos pesquisas satisfatórias sobre fontes alternativas de energia, como o álcool etílico, o baçu, a mandioca, o gás produzido do lixo e as fontes nucleares de energia.
      Ainda no campo da transformação, os materiais sintéticos ocupam um lugar de destaque.Há 50 anos não se imaginava a contribuição e apossibilidade de aplicação dos plásticos e das fibras sintéticas.
      Outro aspecto de vital importância, que significa a valorização da Química na sociedade, é a produção de drogas e medicamentos, que tem contribuido para o prolongamento da vida do homem e para o alívio de suas dores.
      A Química está a serviço da transformação dos produtos existentes na natureza, visando ao bem estar social. A Química não cria a partir do nad; retira da natureza e, no processo de concatenação de reações em situações controladas, transforma a matéria até chegar ao produto final desejado, passando por quantos estágios intermediários sejam necessários. O papel que constitui o seu caderno, sofre uma série de transformações, desde o plantio das árvores em solo preparado até chegar a nós, em forma de papel, recebendo em sua produção as características que nele vemos.
      O fim desse processo, o produto desejado, é tão importante enquanto marco direcionalque, hoje, através da computação gráfica, os químicos podem desenhar a molécula que desejam, com seus componentes dispostos em ângulos, números e proporções desejadas, e prever quais etapas compõem o processo de fabricação do produto desejado.
 
Assim, acredito que você, professor, possa argumentar melhor com seus alunos sobre a importância de se estudar e principalmente estudar QUÍMICA. E aos alunos,  aqui estão boas razões para se dedicarem mais aos estudos!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

PORQUE O Hg É USADO NA MINERAÇÃO DO Au

DISPONÍVEL: http://www.oeco.org.br/reportagens/26988-porque-o-mercurio-e-usado-na-mineracao-de-ouro%20
ACESSO: 03/02/2015

    Vandré Fonseca - 14/03/13

Homem exibe uma bolota de mercúrio. Companheiro e veneno do dia a dia do garimpo. Foto: Victor Moriyama
Entre as propriedades do mercúrio, está a capacidade da forma orgânica desse elemento se acumular ao longo da cadeia alimentar, causando a contaminação de peixes e o risco de envenenamento de quem deles se alimenta , inclusive seres humanos. A intoxicação por mercúrio pode provocar danos ao sistema neurológico. As consequências podem variar desde dores no esófago e diarreia a sintomas de demência. Depressão, ansiedade, dentes moles por inflamação e falhas de memória também estão entre os sintomas. Um perigo ofuscado pelo brilho do ouro.

Para o garimpeiro, o que importa são outras propriedades do mercúrio. Primeiro, a capacidade de se unir a outros metais e formar amálgamas, o que é fundamental em garimpos, onde os minúsculos grãos de ouro precisam ser separados dos sedimentos dragados de leitos de rios ou da terra escavada. Após esse cascalho passar um período em esteiras, para que os metais se assentem e sejam separados de sedimentos mais leves, o material concentrado é jogado em betoneiras onde é misturado à agua e ao mercúrio.

Os pequenos grãos se agregam com ajuda do mercúrio e podem ser separados com mais facilidade. Em garimpos onde é usado maquinário mais pesado, como balsas, os sedimentos são dragados para dentro de misturadores, chamados pelos garimpeiros de cobra-fumando, onde se costuma também utilizar o mercúrio para evitar que partículas de ouro sejam desperdiçadas. No final, os restos contaminados são despejados no solo ou no rio.

“O mineral na água não é suficiente para causar problemas para a população. O problema é quando ele é transformado em compostos orgânicos, aí ele entra na cadeia trófica, das plantas aos peixes”, afirma Bruce Forsberg, especialista em ecossistemas aquáticos, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Ponto de liquefação

A capacidade de formar amálgama não é a única propriedade do mercúrio que interessa aos garimpeiros. Ele se liquifica e evapora em temperaturas menores do que o ouro. Portanto, basta um maçarico para separar os dois metais e obter o ouro puro. Quando realizado em ambiente aberto, esta parte do processo libera o mercúrio em forma de gás para a atmosfera.

“Compradores e vendedores de ouro têm mais problemas de envenenamento porque trabalham em ambientes fechados”, diz Forsberg, pois se a operação é feita em locais que confinam o vapor, ele ataca o sistema respiratório ao ser inspirado. Esse gás tóxico e corrosivo também provoca imitações na pele.

De acordo com Forsberg, cerca de metade do mercúrio usado no garimpo evapora e vai para a atmosfera. E quando isso acontece, as conseqüências ultrapassam os limites da floresta. Nos últimos 100 anos, segundo o pesquisador, a concentração de mercúrio na atmosfera aumentou três vezes. Para esse aumento, contribuíram principalmente as indústrias que usam o metal, em particular dos países desenvolvidos. E existe ainda a contribuição dos processos naturais, como vulcões, responsáveis por 1/3 do mercúrio presente na atmosfera. Mas o uso nos garimpos também contribui.

Forsberg alerta sobre um fenômeno menos conhecido: "Em fios de cabelo de pessoas que vivem no Alto Rio Negro, no estudo que fizemos no Amazonas, encontramos concentrações de mercúrio 7 vezes maior do que no Madeira ou Tapajós. E no Alto Rio Negro não temos garimpo", diz. A razão e a combinação entre o mercúrio encontrado naturalmente na região e a presença de bactérias capazes de transformar o metal em compostos orgânicos.