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ACESSO: 22/04/2016 as 18:22h
Um grupo internacional de pesquisadores, entre eles o neurocientista
brasileiro Eduardo Schenberg, à época no Departamento de Psiquiatria da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), analisou em detalhes os
efeitos do LSD no cérebro humano por meio de diferentes técnicas de
neuroimagem. LSD é a sigla de Lysergsäurediethylamid, palavra
alemã para a dietilamida do ácido lisérgico, substância conhecida pelo
seu efeito alucinógeno. Em um estudo publicado na segunda-feira, 11, na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS),
os pesquisadores verificaram que o ácido desencadeou alterações nos
padrões de atividade e conectividade de redes de neurônios no cérebro de
voluntários.
Os achados podem ampliar as perspectivas de estudo envolvendo o uso
de LSD e outras substâncias químicas no tratamento de distúrbios
psiquiátricos. Isso porque essas drogas parecem interromper padrões de
conectividade entre redes cerebrais em diferentes áreas do cérebro. É a
primeira vez que esse tipo de estudo é feito. Até então, quando o LSD
era mais estudado, antes de sua proibição em meados dos anos de 1960,
nenhuma das técnicas usadas de neuroimagem existiam.
No estudo,
os pesquisadores administraram o LSD em 20 indivíduos, todos
considerados saudáveis do ponto de vista físico e mental. Os
experimentos foram feitos em dois dias. Em um deles, cada voluntário
recebeu uma injeção de 75 microgramas do LSD. Em outro dia, placebo.
Para entender os efeitos do alucinógeno no cérebro dos indivíduos, os
pesquisadores valeram-se de três técnicas de neuroimagem que mediram o
fluxo de sangue, as conexões funcionais dentro e entre as redes
cerebrais e as ondas cerebrais no cérebro dos indivíduos sob efeito do
LSD e do placebo. “Das 20 pessoas que participaram do estudo, cinco não
foram aproveitadas, uma vez que é muito difícil ficar quieto sob efeito
dessa droga”, explica Schenberg. “Descartamos essas pessoas porque os
equipamentos não conseguiram escanear seus cérebros adequadamente.”
Os participantes relataram terem experimentado alucinações visuais e
estados de consciência alterados pelo LSD. Os pesquisadores associaram
essas alucinações visuais a alterações em uma área específica na parte
de trás do cérebro, responsável pelo processamento de estímulos visuais —
chamado córtex visual —, incluindo o aumento do fluxo sanguíneo e a
conectividade expandida com outras regiões do órgão. Em condições
consideradas normais, os estímulos visuais são processados pelo córtex
visual. No entanto, sob efeito do LSD, neurônios de áreas associadas ao
processamento de estímulos visuais tornaram-se ainda mais ativos, embora
os olhos dos voluntários estivessem fechados. “A atividade no córtex
visual durante a experiência com o LSD está relacionada à atividade de
muito mais regiões cerebrais do que a atividade registrada com o uso do
placebo”, diz.
Ao mesmo tempo, os cientistas associaram a diminuição dos índices de
conectividade entre os neurônios de duas regiões do cérebro — os
córtices para-hipocampal e retrosplenial — a alterações nos estados de
consciência, expressas pelos voluntários como uma sensação de
desintegração de si mesmo (ou dissolução do ego). “O LSD diminuiu a
intensidade das oscilações elétricas de praticamente todo o córtex
cerebral, o que está associado a uma menor sincronia entre neurônios,
indicando que o córtex se encontra, de maneira geral, em um estado de
funcionamento muito diferente do usual”, explica Schenberg. O cérebro
humano funciona tendo como base redes independentes responsáveis por
funções específicas, como a visão, os movimentos, a audição e a atenção.
Sob o efeito do alucinógeno, no entanto, as regiões responsáveis por
essas funções tornaram-se mais conectadas, dando forma a um cérebro mais
integrado ou unificado.
Os achados, ele diz, podem ser úteis no estudo envolvendo o uso de
LSD no tratamento de distúrbios psiquiátricos, como transtorno obsessivo
compulsivo, dependência química, estresse pós-traumático e depressão.
Drogas como essa parecem interromper padrões de conectividade entre
redes cerebrais localizadas em diferentes áreas do cérebro. Em outras
palavras, o possível efeito terapêutico do LSD estaria relacionado a
maior fluidez da atividade cerebral que acompanha a experiência
subjetiva da perda da noção de si. Além de Schenberg, participaram da
pesquisa cientistas do Reino Unido, Canadá, da Alemanha e Nova Zelândia.
Artigo científico
CARHART-HARRIS, R. L. & NUTT, D. J. et al. Neural correlates of the LSD experience revealed by multimodal neuroimaging. Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). v. 113, n. 15, p. 1-6. abr. 2016
CARHART-HARRIS, R. L. & NUTT, D. J. et al. Neural correlates of the LSD experience revealed by multimodal neuroimaging. Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). v. 113, n. 15, p. 1-6. abr. 2016
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