DISPONÍVEL: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/12/18/extincao-de-animais-pode-agravar-efeito-das-mudancas-climaticas/?cat=noticias
ACESSO: 15/01/2016 as 19:56h
A extinção de animais frugívoros, que se alimentam sobretudo de
frutos, como antas, cutias e muriquis poderá comprometer a capacidade
das florestas tropicais de absorver dióxido de carbono (CO2)
da atmosfera. Isso porque a extinção desses animais capazes de dispersar
sementes de frutos grandes mudaria a composição das florestas, afetando
seu potencial para combater alterações climáticas. A relação foi
observada por um grupo de pesquisadores de várias instituições
brasileiras e internacionais sob coordenação do biólogo brasileiro Mauro
Galetti e sua orientanda de doutorado, Carolina Bello, ambos do
Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em
Rio Claro, interior de São Paulo. Em um artigo publicado nesta
sexta-feira, 18, na revista Science Advances, eles relacionam a
composição e a abundância de espécies de árvores, bem como o tipo de
dispersão de suas sementes, à padrões de dureza da madeira e altura.
Essa é uma maneira de medir o quanto uma árvore pode estocar carbono.
Os pesquisadores estimaram a perda da capacidade de estoque de CO2
na Mata Atlântica a partir de diferentes cenários de defaunação, como é
conhecida a diminuição acentuada da população de animais em um
ecossistema, em geral induzida por atividades humanas como desmatamento e
caça ilegal. Ao simular a extinção local de árvores que dependem da
dispersão de suas sementes por grandes frugívoros na Mata Atlântica, os
pesquisadores verificaram que a defaunação comprometeria
significativamente a capacidade de armazenamento de CO2 pela
floresta. Esses animais, há algum tempo se sabe, cumprem funções
importantes em relação às plantas, seja por polinizar as flores ou por
comer os frutos e dispersar as sementes, favorecendo a regeneração
natural das florestas.
No estudo, a equipe de Galetti observou que árvores com troncos
grandes e duros têm sementes igualmente grandes. Logo, quanto maior a
semente, tanto maior será a árvore. Árvores grandes, por sua vez, são
capazes de sequestrar e armazenar maiores quantidades de carbono. Por
meio de simulações computacionais, os pesquisadores verificaram que à
medida que dispersores de sementes grandes eram progressivamente
extintos, também as árvores grandes tornavam-se menos abundantes. Em
outras palavras, na ausência de antas, bugios e muriquis, a floresta
mudava para uma composição de espécies de árvores de sementes pequenas e
madeira “mole”. Com o tempo, segundo eles, a tendência é que somente as
sementes menores sejam encontradas na natureza, em um efeito cascata
induzido pela ação humana que pode desencadear mudanças ecológicas
significativas. “As sementes de canelas, jatobás e maçarandubas, por
exemplo, são grandes e dispersadas apenas por animais grandes, como
antas e muriquis”, diz Galetti. “Essas árvores são as de madeira mais
nobre e as que estocam mais carbono”, explica.
A Mata Atlântica é um dos mais degradados ecossistemas brasileiros,
do qual restam, segundo algumas estimativas, aproximadamente 12% da
cobertura original – mais de 80% da vegetação remanescente encontra-se
altamente fragmentada em áreas com menos de 50 hectares. De acordo com
os pesquisadores, o mesmo raciocínio que eles aplicaram à Mata Atlântica
pode ser extrapolado para outros ambientes, como o amazônico, cujas
espécies de árvores que retêm até 50% de CO2 da atmosfera
dependem em grande medida da dispersão das sementes por frugívoros de
grande porte. Segundo eles, os resultados ressaltam a importância de se
considerar os animais como parte fundamental no processo de redução de
emissões de gases do efeito estufa por meio do armazenamento de carbono
em florestas tropicais.
Projeto
Ligando defaunação e os serviços de ecossistemas de armazenamento de carbono em florestas atlânticas (nº 2013/22492-2); Modalidade Bolsa no país — doutorado; Pesquisador responsável Mauro Galetti Rodrigues (Unesp); Bolsista Laura Carolina Bello Lozano (Unesp); Investimento R$ 140.088,00 (FAPESP)
Artigo científico
BELLO, C. et al. Defaunation affects carbon storage in tropical forests. Science Advances. dez. 2015.
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